segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Fantástico Mundo de Bobo

Este blog já foi mais democrático. Inúmeras vezes dei espaço para os desvalidos que, em nenhum outro lugar, o teriam para expor seus profundos pensamentos. Por isso, quando conheci meu grande amigo Bobo, percebi que tinha a chance perfeita. Bobo é um cara simpático, um pouco atrapalhado nos pensamentos, mas bem legal se tivermos paciência em acompanhar a rapidez (! - ponto irônico) de suas ideias.
Conheci-o andando nas ruas deste Brasil grande de Deus. Sempre a coçar a cabeça, ele me perguntava tudo e qualquer coisa quando começamos a nos tornar mais amigos. Sempre com um jornal nas mãos, ele os lia com simplicidade de um grande gênio. Mas vamos ao pensamento de Bobo, o grande pensador.

Bobo - Meu amigo satírico me pediu para escrever alguns pensamentos que tenho aqui neste blog. Eu respondi que pensamento, não, não tenho nenhum não. São os pensamentos que me têm. Eles me perseguem, me atazanam, me mordem e me machucam todo. Deve ser por isso que uso, de vez em quando, camisa de força. Fora esses raros momentos em que fico agindo feito doido, apesar de ser senhor completo de meus atos e de minha sanidade, eu sou uma pessoa completamente banal. Banal, não. Normal. Eu sou normal. Tenho certeza de que sou normal. Eu só faço perguntas que ninguém mais faz ou quer fazer...
As pessoas me chamam de Bobo. Minha mãe me deu outro nome, mas ninguém me chama assim. Mesmo minha progenitora já desistiu de usar meu nome de batismo e de certidão de nascimento... Se eu fosse me candidatar, teria de usar o nome Bobo. Todos na minha humilde cidade me conhecem. As mães apontam para mim e dizem: "Vocês têm que estudar se não ficam que nem o Bobo". Os infantes guerreiros de nove, dez a quinze anos me perseguem na rua, gritando meu nome: Bobo, Bobo! Eu sei que não sou muito inteligente, mas sou mais inteligente do que muita gente imagina. Eu observo tudo. Meus dois olhos, que parecem perdidos em êxtases fantásticos e que, por isso, não chamam a atenção de ninguém, comentam um com o outro as barbaridades e malvadezas que as pessoas fazem umas com as outras, sem piedade nem dó. Sei muito bem, e isso já percebi várias vezes, que o que sai da boca muitas vezes não vem do coração, mas, creio eu, de outro órgão menos nobre para ocultar as prevaricações que irão cometer. Não sei por que não dizem a verdade. Quando a mulher afirma para o marido: "vou à casa da amiga para falar um pouco", por que ela simplesmente não diz: "estou saindo para encontrar meu amante porque você não me dá atenção"? Eu não digo o nome da mulher, do marido e do amante, porque já cansei de apanhar na rua por causa de minha língua grande.
Ainda não sei porque a verdade assusta tanto as pessoas.
Talvez porque elas não sejam como eu, um Bobo. Uma coisa eu percebi, porque Bobo não é tão bobo assim não. Todo mundo quer ser esperto, todo mundo quer passar a perna no outro. Isso eu já bem entendi. E não são só os espertos do bar que querem passar a perna nos outros, mas também os que, assim dizem, seguem a religião cristã (e qualquer outra religião, pra dizer a verdade...). Já fui à muita missa tanto de uma quanto outra seita cristã e acabei por perceber que muitos, que falam em perdoar e em dar a outra face, assim que saem da igreja ou ainda dentro dela, quando percebem que alguém quer passar a perna neles, logo, logo ficam nervosos, reclamam, esbravejam e dizem que vão pegar aqueles safados... E perdoar as dívidas? Posso afirmar, com a boca cheia e pleno de convicção, que nunca vi nenhum cristão filho de Deus perdoar dívida nenhuma de ninguém. Aliás, já vi uns ficarem bem nervosos quando os outros não pagam a dívida na data certa. Assim, a ordem de todos é não se passar por tolo, mas, sim, por esperto.
Dar a outra face? Se alguém vem esmurrar o outro, este logo tenta devolver o murro com juros.
Assim, o cristão tem um falar e um fazer. O falar é o que de mais puro há, mas o fazer é cheio de luxuriante prazer. E ainda notei também que, se eu disser a verdade para qualquer cristão, ele tenta fazer graça comigo dizendo que Bobo é um bobo mesmo. Mas, se eu insistir, ele logo fica nervoso e manda Bobo calar a boca. Eu calo, porque sopapo de cristão é igual a sopapo de pagão. Melhor ser raposa que cordeiro. Melhor ser esperto que bobo. Só um bobo pode ser como eu, Bobo.
Os caras do bar (ou bares, porque tantos bares há quanto igrejas...) se riem muito de mim. Às vezes, dizem que alguma moça está interessada em mim e eu, porque sou Bobo, acredito. Assim, Bobo fica todo feliz, todo alegre e serelepe. Mandam Bobo se declarar para a referida moça e Bobo vai se declarar, decorando um poema de amor, e, quando Bobo se declara, a moça ou foge desesperada ou escarnece de Bobo. E todos do bar riem, gargalham e zombam de Bobo. Não vou dizer que Bobo não fica triste ou sorumbático com essas perfídias, mas, como Bobo bobo é, ele continua indo aos bares. E continua caindo nesses ardis.

Mas tudo bem! Eles são amigos de Bobo, toda hora me dizem e repetem. Fizeram até com que uma vez eu tomasse um gole de cachaça afirmando que era água que passarinho não bebe. Muito me impressionei com esse dizer. Como um passarinho não iria beber água? Por acaso, estava suja? Eles riram muito e me mandaram beber sem pensar. Afirmei que não era muito de pensar e eles riram mais ainda. Tudo bem. Eles são amigos de Bobo. Bobo foi lá e bebeu. Tudo ardeu. Fiquei como um louco endemoninhado que não sabe o que fazer. Todos riram muito à custa do sufoco de Bobo. Menos o dono do bar, pois eu acho que não ficou feliz por eu ter cuspido tudo na cara dele. Os outros, não, os outros aí que arrebentaram de rir (mas permaneceram inteiros, não sei por que as pessoas falam assim...).
Rir do outros parece ser o esporte favorito dos espertos.

Sim, muitas estripulias e embrulhos cometem com Bobo. Mas Bobo não se importa. Eu não me importo. Por quê? Porque sou Bobo.
Das humanas paixões a que mais me assusta é a inveja. Sei, por experiência alheia própria (quero dizer, por bisbilhotar alheia vida), que essa paixão sufoca e mata quem muito a ela se entrega. Quando o vizinho adquire novo veículo, o próximo tem logo que comprar um melhor. Creio que as montadoras de automóveis lucrem muitíssimo com esse mesquinho sentimento. Talvez não seja tão mesquinho, mas que sei eu? Sou Bobo.
O capitalismo não é o melhor sistema econômico, mas o que melhor se adapta às loucuras do ser humano.
Sim, sou um entendido em economia política, porque folgo muito em matar meu tempo na biblioteca. Quando veem Bobo com um livro nas mãos, os funcionários da biblioteca morrem de rir e não imaginam que Bobo consegue muito bem entender o ABC dos livros. Os funcionários da biblioteca nunca leem, bem reparei eu, o Bobo. Em vez disso, os funcionários da biblioteca gostam de fofocar e trocar intrigas que bem observo eu, o Bobo. Ler para que?, uma vez perguntou uma funcionária e arrematou: Isso é coisa de bobo. Pois Bobo sou eu e Bobo adora ler todo tipo de livro.
E ainda posso afirmar que meu amigo satírico também ficou todo envaidecido quando disse que gostava de ler suas extravagâncias. Nada melhor do que afagar o ego de alguém. Isso percebi, ou talvez não.
E não comento agora todas as loucuras que homens e mulheres cometem por conta de todo e qualquer tipo de excesso. Não comento, porque não quero. Porque sou Bobo, o bobo. Mas não um bobo normal. Um bobo não é como eu, o Bobo. Ou será que seria? Não sei. Mas eu acho que sabia. Ou se sabia não sei mais. Minha cabeça dói quando penso muito. Isso acontece com vocês também?
Bem, até mais, meus amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente.
Assim que puder, eu libero (ou não...) o seu comentário.
Abraços.

Web Analytics