segunda-feira, 24 de maio de 2010

Contra o Ficha Limpa, pelo Deputado Tomás Armando Mutretas

(Este texto é ficcional, tratando-se apenas de uma paródia. Qualquer semelhança é mera coincidência.)
O Santas Sátiras é um blog que tem o orgulho de afirmar-se isento. Por isso, apesar de o autor deste blog apoiar todas as medidas para a moralização da vida pública, também queremos mostrar os argumentos do outro lado.
Por isso, que é com espírito da cidadania, passamos a palavra para o excelentíssimo deputado Tomás Armando Mutretas:

Meus prezados e queridas,
Para quem não me conhece, me chamo deputado Tomás Armando Mutretas e tenho orgulho de ser político. Além disso, tenho orgulho de ser de uma família de políticos.
Por que afirmo que tenho orgulho de ser político? Porque vejo em todos os cantos, em todas as mídias, em toda a classe média, uma tal ojeriza pelo ser político, uma tal aversão e asco que me sinto, em determinados momentos, temeroso de revelar minha profissão. Sou político e, logo, me acusam de todos os erros e falcatruas de uma parcela mínima dos políticos. O que me diriam vocês do seguinte: se alguém fosse a um médico que se mostrasse um charlatão, poderia acusar todos os médicos de charlatões? Se alguém fosse a um advogado desonesto, poderia generalizar e difamar todos os advogados? (Aliás, sou advogado por formação e todas as piadinhas contra a minha profissão considero de extremo mau gosto). Claro que não! Claro que vocês iriam considerar essa pessoa um pouco sem razão.

Então, vejam vocês o caso dos políticos.
Quantos políticos foram condenados até hoje pela justiça?
Pouquíssimos.
O STF condenou um há pouco tempo só para vocês terem uma ideia.
Assim, no lugar onde se mostram as provas, no lugar onde deve ser feita a justiça, no lugar onde se contrastam provas e contraprovas, que é o tribunal, nesse lugar poucos políticos foram condenados.
Devo lembrar que nossa ilustríssima Constituição republicana só considera alguém culpado depois da sentença transitada em julgado? Ou em bom português, depois que a partida de futebol terminou?
Mesmo assim, muitos insistem em nos acusar a todos. Em generalizar a nossa condição.
Por exemplo, o chamado projeto da Ficha Limpa.
Desde logo, afirmo e declaro que fui contra, que sou contra e que continuarei contra.
Fui contra esse projeto antes de ele entrar no Congresso, sou contra esse projeto enquanto ele sai do Congresso para a sanção presidencial e serei contra essa nova lei, impetrando no STF ação direta de inconstitucionalidade (estou conversando com meus advogados sobre isso...).
Um malicioso poderia argumentar que sou contra, porque tenho processos (e algumas condenações...) nas costas. Quem assim afirmar, aviso que estará me difamando e caluniando, sujeitando-se, então, a receber em suas costas um processo civil de difamação e calúnia. É verdade que tenho alguns processos contra mim tramitando na justiça, mas posso afirmar categoricamente que sou inocente de todos eles. Eu nunca desviei verba nenhuma, nunca fiz parte de nenhum mensalão (que, aliás, ninguém sequer provou a existência...), nunca participei de nenhuma maracutaia!
Sou o exemplo perfeito de político honesto.
Conforme matéria veiculada em uma revista da oposição (óbvio está que possui intuitos políticos e mesquinhos contra a minha imagem...), é verdade que meu patrimônio mais que decuplicou desde que ingressei na vida política há cinco anos. É sim verdade. Admito, mas isso se deve à malabarística capacidade de administrar empresas que tenho. Deus deu-me o dom de ser um excepcional empreendedor, mas eu ainda assim me dedico à vida política para melhorar a sofrida vida de nosso povo! Assim, não sou político para me enriquecer, mas sou político para me empobrecer, pois poderia estar ganhando milhões se não fosse minha vida pública (E não adianta me acusarem de que minhas empresas e de minha família ganham todas as licitações, pois, se as outras empresas fossem competitivas, não estariam reclamando no judiciário).
Sou um político honesto e, mesmo assim, já fui condenado em colegiado. Em uma decisão absurda, é claro. Devem ter gastado uma nota para comprarem os desembargadores, mas, segundo fontes suspeitas, eles não são tão caros assim.
O problema é que fui condenado, mas ainda tenho chances de recorrer. Como posso ser impedido de exercer meu precioso direito de ser votado, de me candidatar? Como pode o povo ser coagido a não votar em mim?
Esse projeto, o da Ficha Limpa, é um absurdo. É imoral. É indigno. Por quê? Porque os políticos são sempre alvo de acusações, de difamações, de perseguições políticas. Estas últimas foram responsáveis por noventa por cento de minhas acusações (Os outros dez cabem à minha ex-esposa que não aguentou o fato de eu ter me apaixonado por minha assessora trinta anos mais nova do que eu...). Os outros partidos, percebendo que sou uma tsunami eleitoral, que não podem me deter pelas vias normais, tentam a via judicial, por meio de fraudulentas acusações e insinuações de desafetos meus.
Dessa forma, meus amigos e amigas, sou contra o projeto Ficha Limpa, pois considero-o não só inconstitucional, mas também imoral. Com certeza, os ministros do STF vão descartá-lo como uma afronta à nossa Constituição.
E também  considero o projeto Ficha Limpa um ataque pessoal contra minha nobre figura. Uma tentativa de impedir que o povo escolha o melhor candidato (no caso, eu, só para deixar bem claro).
Desde já, meus agradecimentos.

(Este texto é ficcional, tratando-se apenas de uma paródia. Qualquer semelhança é mera coincidência.)

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