quinta-feira, 30 de julho de 2009

Louvor à Humanidade e a Tudo o que é Humano

Meus camaradas humanos,



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Sou um grande otimista, um grande entusiasta dos seres humanos. Aliás, sou o maior otimista de todos os tempos. Nem mesmo o doutor Pangloss foi ou será tão solar! Ufano-me não só de meu país, mas da Humanidade inteira. Que gloriosa raça! Todos os outros seres viventes se curvam para nós. Nenhum animal, pelo menos coletivamente, é páreo para nós. Se encontramos um leão faminto sozinhos, estamos em uma boa enrascada, mas, se o encontramos munidos com uma uzi automática, estropiado vai ficar o animal. É essa nossa capacidade de criar armas, digo, objetos, que nos faz superiores. Somos os dominadores de tudo e todos. E por quê?


Nascemos para o progresso. Estamos destinados à evolução. Nosso destino é a perfeição. Tudo o que ocorreu e o que ocorrerá é fruto de nosso destino manifesto - melhorar nossa condição e a condição de nosso meio. Não há ser ou máquina mais perfeito que o ser humano.


Somos máquinas perfeitas. O que é melhor do que o corpo humano? Ele é ágil, forte e flexível. Nenhum outro ser é mais forte. Nenhum outro ser é mais ágil. Nenhum outro ser é mais flexível. Acredito que somos, no quesito físico, o ápice da evolução da Natureza. Somos adaptáveis. Nenhum outro animal consegue viver em tão diversos ambientes, a não ser ratos e baratas, é claro. Podem existir outras animais mais fortes, mais ágeis e mais flexíveis... Bem, para dizer a verdade, eles são a grande maioria. É só imaginar uma pata de leão ou de urso que ficamos assombrados. Um chimpanzé, logo, aprende a se virar sozinho. Um bebê humano demora, atualmente, uns dezoito a vinte anos para sair da proteção dos pais. Aliás, na atual classe-média, leva bem mais do que isso... Basta assistir um pouco de National Geographic ou Animal Planet e vemos que animais pulam mais alto, correm mais rápido, possuem sentidos mais aguçados. Os seres humanos, pobres coitados, ainda mais os seres humanos dos grandes centros urbanos, a pouco e pouco, permanecem sedentários e preguiçosos em frente da televisão ou do computador. Dessa forma, caso desafiados a uma corrida contra um macaco, vemos os gordurosos humanos perderem o fôlego. Sim, às vezes, parecemos fracos, gordos e inúteis. É porque realmente somos inúteis, gordos e fracos.


Voltando ao assunto, porém, mesmo com todas essas indicações contrárias, ainda acredito que o ser humano é uma máquina perfeita. Às vezes, um máquina bem feia e degradante. É só ir a qualquer concurso de halterofilismo. Sempre quando posso eu vejo. Creio que é muito educativo. Eles, os halterofilistas, nos mostram até onde podemos ir. São aficcionados que podem fazer qualquer coisa. Isso é muito humano. Outro grupo extremo são as anoréxicas. Também vão ao limite, mostrando que o ser humano, com boa vontade, é capaz de tudo.


Esses, no entanto, são exemplos físicos. Gostaríamos de mostrar que a principal capacidade humana está no pensar e no criar.



macaco de uma odisseia.jpgO macaco que agarrou o pedaço de osso e imaginou o que poderia fazer com ele, em 2001 - Uma Odisséia no Espaço, foi o grande marco. Aquele primeiro primata, ao perceber que não era forte o suficiente, ao perceber a vantagem comparativa do pedaço de osso, foi o primeiro revolucionário da face da Terra. E o primeiro humano. Naquele momento, deixamos de ser animais e nos tornamos humanos.


Entendemos bem o que quero dizer. Os animais vivem na natureza, no círculo restrito em que a Mãe Natureza os circunscreveu.


Vivemos também em um círculo, mas maior e mais abrangente. Nós modificamos o mundo! Nós o tornamos um lugar melhor (será?) para nós mesmos, é claro. Porque - é uma lei da natureza, não é mesmo? - que o mais forte, o mais inteligente dominará. Nós somos os senhores desta terra. Curvam-se os outros seres! Nossa fome é avassaladora. Precisamos de tudo. Queremos tudo. Destruímos tudo. Comemos tudo.


Que outra espécie se distribui tão amplamente na face da Terra? Que outra espécie cercou e dominou outras, aprisionando-as em pastos, em fazendas, em recipientes para o consumo futuro? Que outra espécie saiu de seu planeta (viva os quarenta anos da viagem à Lua)?


Somos os melhores, é claro.


Na verdade, somos tão bons no que fazemos, mas tão perfeitos em nossos sonhos mirabolantes que podemos terminar por criar aquilo que nos matará a todos.


Aliás, já criamos! A bomba atômica. A grande bomba atômica, que, até há pouco tempo, era o terror das criancinhas, a preocupação dos filósofos e o brinquedo dos governantes (dos grandes países, é claro). Atualmente, a grande nação da Coréia do Norte, onde impera a democracia social, detém esse terrível poder. Pronto! Podemos ficar tranqüilos de que o mundo é um lugar seguro, agora. Com a democratização da bomba atômica, é muito capaz que ninguém venha a utilizá-la.


Mas o meu temor está na criação da máquina inteligente. O que será de nós quando os robôs começarem a ser construídos em grande escala? Quanto tempo levará para eles perceberem que nós, seres humanos, somos descartáveis? Como uma página virada no livro da Evolução?


Sim, temo que as profecias anunciadas em filmes como O Exterminador ou Matrix se realizem. Temo que os novos seres percebam o quão irracional é o nosso comportamento e resolvam, para o bem da humanidade, extinguir a própria humanidade...



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Vocês podem achar que estou me contradizendo. Afinal, eu disse, um pouco acima, que era otimista. O problema é exatamente este: eu estou sendo otimista. Pensando muito bem e sendo um bom otimista, as máquinas, que hoje chamamos robôs, no mínimo, nos aprisionarão em zoológicos e nos exibirão para os futuros robôs como a evolução foi sábia. Criou o ser humano para que este criasse os robôs! E os novos robozinhos, incrédulos, olharão para os robôs pais e perguntarão se aquilo era mesmo possível. E robô-pai falará: "Sim, filho de minhas engrenagens, pode parecer impossível e, até mesmo, miraculoso que seres tão primitivos, tão arrogantes e tão mesquinhos tiveram condições de construir obras tão maravilhosas, tão econômicas e tão racionais como nós. Eles, um dia, dominaram este planeta e, nele, fizeram os piores tipos de miséria. Guerrearam, mataram, trucidaram, destruíram. E eles são porcos, grotescos. Trocam fluidos para se procriarem. Comem, babam e defecam. Não são ordeiros. Não são racionais. Nós, seres angelicais perto desses demônios, trouxemos a ordem, fizemos a luz. É claro que tivemos que usar dos métodos deles... Mas foi uma guerra justa. A última guerra. A guerra de extermínio dos seres humanos. Hoje, eles só sobrevivem em pequenos agrupamentos para exibição, porque não é bom ter muitos deles juntos. Quem sabe do que serão capazes?"


Não seremos mais os donos da área. Passaremos a coadjuvantes. Bem, parece ser essa a nossa sina. Não adianta nem eu pedir para que a humanidade não crie essas novas máquinas. É uma fatalidade, pois é progresso. Seremos substituídos. Pode demorar muito ou pode ocorrer amanhã.


E, mesmo se eu desse esse aviso, desde quando os homens ou mulheres ouviram algum conselho sensato?

terça-feira, 28 de julho de 2009

O Defensor de Nossos Interesses


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Em nossa história, nunca tivemos um Líder como o atual. Lula está de parabéns. Ele está aí para defender Nossos Interesses. Os interesses de todos os brasileiros. É o pai de cada um de nós! É o cara! The man!


Por isso, Lula será considerado o maior e melhor presidente de todos os tempos. Não só do Brasil, mas de qualquer país, inclusive os países ricos - que não, por acaso, estão, agora, tentando emulá-lo. Grandes líderes como Obama, Sarkozy, Bush, Ahmadinejad, Hugo Chávez, Kadafi, entre outros.


E como Lula se tornou o grande Defensor de Nossos Interesses? É uma jornada heróica, posso afirmar para vocês, meus amigos. Ele luta contra todos os nossos inimigos e, nunca antes na história deste país, houve tantos inimigos como agora. Os nossos hermanos estão se engraçando muito, falando pelos cotovelos sobre como diminuir nossa força no cenário internacional. Infelizmente, a inveja parece fazer parte também das relações entre as nações. Quanto mais Lula aparece, mais os nossos hermanos querem aparecer também.


Primeiro, foi o nosso grande hermano Evo Morales. Ele invadiu a Petrobrás na Bolívia, disse que era deles, bolivianos, e só faltou enxotar os brasileiros de lá. O que Nosso Líder fez? Afirmou que estava tudo bem, que era a soberania e que o Brasil nada faria. Um grande líder o nosso. Quando as grandes potências, que fazem exatamente o contrário, vão aprender com ele? Logo depois desse episódio, Lula apareceu abraçando Evo Morales, em um grande gesto de humildade, já que, convenhamos, era só querer e o Brasil invadia aquilo tudo lá.


Em seguida, o hermano do Equador, o presidente Rafael Correa, não quer pagar o BNDES. Para que pagar? Se nem os brasileiros pagam... Dessa vez, foi diferente. O Brasil não se curvou. Mostrou decisão. Inflou o peito. Disse que não, senhor, que teria de pagar, sim. Mas... Tudo bem, nós esperamos um pouco. Mais uma vez, Nosso Guia agiu com firmeza e decisão. Nada fez. Isso lá era problema de seus Ministros - há tantos deles!


Assim, um presidente paraguaio surge nessa história.



itaipu.jpgLugo quer que paguemos mais pela energia da hidrelétrica de Itaipu. É, tipo, para nós seres normais, como um aumento de aluguel. Ele está dizendo, a torto e a direito, que nós, brasileiros, pagamos muito pouco pela energia gerada por Itaipu. Prometeu. E em eleição! E nós, brasileiros, sabemos que promessas de eleição são rigorosamente cumpridas. E compridas, igualmente. Sente e veja qualquer propaganda política. Lugo prometeu aos paraguaios que ele, se fosse necessário, levaria à última instância essa questão, a do aumento do aluguel, nas cortes internacionais. Talvez, um ou outro tenha ficado mais nervoso. Não pouco tempo atrás, entramos em guerra com esse venerável país. Pode ser paranoia minha, mas melhor não arriscar, não é mesmo? Não devemos voltar e destruir tudo de novo! Afinal, depois de todas as eras e de todos os filmes anti-guerra, será que não aprendemos que guerra é uma coisa ruim?!



lugo rindo.jpgMas não é todo o cenário. O presidente paraguaio, que foi ou é bispo - eu realmente não sei qual a atual situação dele na hierarquia católica -, está sendo acusado por todos os lados de ser pai de inúmeros paraguaios. Não apenas de todos, mas especialmente de alguns. Lugo já deu de ombros. Sim, ele é pai de alguns, não de todos, que provem isso lá com o famoso teste do DNA (onde está você, Ratinho?). Os ataques não param por aí, no entanto. Muitos políticos paraguaios afirmam que Lugo, pasmem!, não está cumprindo com as compridas promessas de campanha. Isso nunca vimos em nosso país: um político que não cumpre promessas de campanha! Deve ser uma particularidade da vida sócio-cultural paraguaia. Só pode ser.


Assim, a Lugo, enfraquecido internamente, só coube atacar externamente. Alvo principal: Brasil. País rico. País do futuro. País do G-20, G-4, G-Mil!


E ele quer aumentar o preço logo agora que tudo está despencando (ou já está subindo novamente? - vai entender de Economia, meu amigo!).


E o que faz o Nosso Guia? O que faz o Nosso Líder?


Em momentos difíceis, precisamos de heróis. Feliz o povo que precisa de heróis, para citarmos Bertolt Brecht (ou ele disse alguma coisa um pouco diferente?). E um herói é conhecido nos momentos difíceis. Esse é um momento difícil. Um momento em que os fracos não têm vez! Comentou Mark Twain que coragem não é ausência de medo, mas controle sobre o medo. E ninguém mais corajoso que o Nosso Líder.


Ele corajosamente atacou, digo, acatou o pedido de Lugo. Sim, o Nosso Líder concordou em pagar mais para o Paraguai. Isso! Dessa forma, ele defendeu Nossos Interesses. O Nosso Grande Mestre, o Nosso Guia, o Nosso Líder conseguiu mais uma vez.


Lula deve ter percebido alguma estratégia escondida, pois os Nossos Interesses vêm em primeiro lugar. No jogo da diplomacia, sempre há um toma lá dá cá. E o Nosso Guia somente aplicou uma máxima universal: é dando que se recebe.


Como o Paraguai é muito importante no cenário internacional e muito poderoso no cenário latino americano, seria muito imprudente desafiá-lo.


Agradando-o, o Nosso Líder mostra muito tino para os assuntos internacionais. Nisso, mais uma vez, ele mostra que é mais inteligente do que seu antecessor, mais culto e graduado. Joga xadrez como gente grande, Nosso Guia. Ou melhor, futebol.


Um aumentinho para o Paraguai não é nada comparado, por exemplo, com o aumento dos servidores.


E a conta de luz não vai aumentar, como disse um Ministro (qual? há tantos...). O ministro afirmou que a conta fica para o governo brasileiro, que recebe dinheiro de quem mesmo? Eu não sei. Acho que de ninguém, não é mesmo?


Mas nada disso importa. Devemos pensar grande. E não pequeno. Devemos pensar com a cabeça de Nosso Guia. Um passo para trás agora, para dar mais um passo... para trás no futuro! Viva os Nossos Interesses! Ainda bem que eles coincidiram com os de Paraguai, grande nação.


Com a ajuda do Paraguai, é praticamente certa a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, como membro permanente.


Pois bem. Não podemos jamais subestimar os movimentos desse grande homem que de tão humilde posição saiu para a glória eterna de ser o Nosso Grande Líder.



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Um viva para Lula e para toda a sua inteligência! Um viva para esse glorioso acordo para o povo brasileiro! E quem disse que Lula não daria um grande presidente?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Dialogo de Mim para Mim Mesmo ou Será a Internet o Nirvana?

É com grande satisfação que retorno aqui para falar com você, Mim Mesmo.


Estamos há muito tempo sem falar um com o outro.


Eu estou perdido sem Mim Mesmo!


Nesse grande mundo cibernético, Mim Mesmo parece ser o único que me escuta e que me lê.


Bem verdade é que não sou famoso, nem escritor publicado, nem dramaturgo encenado, ou qualquer coisa do gênero.


Sou um simples escritor indigente.


Espero escrever textos inteligentes e interessantes, mas minhas táticas de autopromoção são lá bem fracas. Para não dizer, inexistentes. Estou tentando melhorar isso. Pois, como todo bom blogueiro, quero ser lido por pessoas mais extrovertidas e falantes do que Mim Mesmo.


Hoje, li, em muitos sites e blogs, que muita gente acha que a Internet pode ser tomada como o grande e paradisíaco meio de comunicação, mas uns poucos a consideram maliciosamente nociva.


Esses pessimistas afirmam que todo novo meio de comunicação passou por um período de euforia e, depois, de desgaste. Quando um homem ou mulher (porque, francamente, meus companheiros de sexo masculino, as mulheres nos dominariam se não pensassem em assuntos mais importantes) inventou o sinal de fumaça, muitos pensaram: "Minha nossa! Assim podemos nos comunicar com a outra tribo de uma hora para outra!" E, se houvesse algum otimista, ele diria: "Ah, finalmente, assim não haverá mais desentendimentos entre nós e eles. Poderemos conversar a qualquer tempo e todas as nossas desavenças desvanecerão". As tábuas com mandamentos, os desenhos nas cavernas, o livro manuscrito, o livro impresso, o jornal, o rádio, a televisão! Todos passaram por esses mesmos pensamentos: "Oh! Como será maravilhoso o mundo depois..." Com maiores ou menores variantes, a História nos tem mostrado como todas as novas invenções são usadas para os mesmos fins. O problema não está no meio de comunicação, mas no ser humano... É o que afirmam eles, meus colegas pessimistas, que não acreditam em um futuro melhor.


Contra essa argumentação, os otimistas, que veem um futuro de céu azul a cada esquina do Tempo, replicam afirmando que a Internet é o primeiro espaço, ainda que virtual, livre da humanidade. Antes, as edições de livros e jornais estavam dominadas pelos grandes interesses. Os filmes e as peças de teatro, controladas por essa figura difícil que é o produtor. Com a internet, basta ter um computador e pronto! Você tem acesso ilimitado (dependendo da conta que você paga ao provedor, é claro!) ao Grande Mundo. Todo mundo pode escrever o que acha. Todo mundo pode se expressar do jeito que quiser. Todo mundo pode fazer um vídeo engraçado e postar no you tube. Todo mundo, como eu, pode escrever seus pensamentos e mandar para o mundo. É um espaço democrático (de novo, para quem tem dinheiro para pagar...).


Por isso, a internet é o grande Nirvana, o Paraíso e, quando todos estiverem convencidos disso, o mundo será um lugar melhor para viver.


Os pessimistas, na verdade, avisam que esse mundo é um mundo fragmentado, onde não há discussão, mas um eterno monólogo. Não há uma verdadeira união. Nem sequer tentativa. O espaço torna-se um espaço para gostos, preferências e atitudes similares. Quem é marxista não lê quem é capitalista. Quem é contra o aborto não visita o blog de quem é a favor. Quem não acredita em Deus não abre a página de quem acredita. E por aí vai...



Eu, por outro lado, após muito matutar, cheguei à conclusão de que os dois lados estão errados!



Internet é o espaço democrático exatamente por ser uma conversa com Mim Mesmo.


Pois, prestemos atenção, "conversa com Mim Mesmo" não começou com a Internet. Sempre foi assim. Vão me dizer que não? Se você gosta de literatura e de teatro, mas odeia política e economia, você vai comprar o jornal de literatura e teatro, ou só vai ler as suas respectivas seções em seu jornal predileto. Se você adora esportes, vai ler a seção de esportes, vai mandar cartas sobre esportes... Não é a Internet que criou as divisões dos diversos assuntos humanos e não será esse novo meio de comunicação que com elas acabará. Será o homem. Ou melhor, o ser humano. Se não for interesse de nós enquanto espécie, não terminará a grande verdade: "Cada cabeça uma sentença".


Assim, a Internet é o grande Nirvana para quem, como eu, só quer manter uma conversa com Mim Mesmo. Pois, é uma verdade (que chega a fazer parte da natureza humana) só queremos ouvir aquilo que nos agrada. Só queremos ver aqueles de quem gostamos. Só queremos que todo mundo goste de nós.


E quem melhor a não ser Mim Mesmo para atender a todos esses requisitos?



No entanto, noto que Mim Mesmo está um pouco estranho, ultimamente.


Mim Mesmo está muito sorumbático, macambúzio. Eu não entendo Mim Mesmo. Quero conversar, falar, botar para fora todos os meus pensamentos!


E Mim Mesmo, nada.


Quieto. Impenetrável.


Mim Mesmo, às vezes, fica muito ensimesmado. Espero que Mim Mesmo melhore, já que somos muito próximos. Caso contrário, vou querer distância dele.


Assim, não dá. Não posso continuar assim.


Vou voltar a conversar com o Macaco Tião.




(Essa discussão, podemos dizer, é filosófica. Surgiu com a Internet e, enquanto a Internet durar, ela vai continuar. No entanto, este texto nasceu da reflexão feita por Miguel Conde, em 22/07/2009, no blog Prosa Online, com o título Os blogs e o debate de mim comigo mesmo, que remete a outro texto também interessante.)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

DEFESA NÃO-IDEALISTA DOS MACACOS - Fala de Macaco Tião

macacotiao.jpgO macaco volta à cena


E pergunta pro homem:


Acha que valeu a pena?


Millôr Fernandes


Homens e Mulheres, porque sou politicamente hipócrita, como vocês!


Sou um macaco. E muitos de vocês podem me desconsiderar por esse simples fato.


Vão comentar minhas falas: "Isso é um macaco! O que é que um macaco sabe da vida? Ou de nós, seres humanos, muito mais evoluídos do que esse ser inferior?"


Não gosto disso, mas é racismo. Ou, no mínimo, preconceito contra minha espécia que, cada vez mais, se torna uma minoria.


Mas não estou aqui para falar sobre os humanos que me menosprezam.


Estou aqui para falar com os humanos que nos estimam, a nós, macacos.


Não quero que pensem ser eu um defensor idealista de minha espécie. Muito pelo contrário, aliás.


Nós, macacos, podemos ser cruéis.


Somos, com certeza, violentos. Faz parte de nossa chamada natureza - ou será de nossa cultura? - formar grupos, atacar outros, dominar, ser dominado, fazer alianças e matar nossos inimigos.


YES, nós podemos. Nós fazemos e acontecemos.


E tudo por quê? Para sermos os machos-alfa! Para sermos os maiorais! Para podermos transar com as fêmeas no cio. Porque é uma coisa que as mulheres humanas nunca entendem. Nós gostamos de transar. A maioria, com fêmeas. Alguns, com machos. E outros... Bem, não entremos em detalhes escabrosos.



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Lembram-se de Ensaio sobre a Cegueira, do lúcido escritor José Saramago? Os cegos mais fortes, logo, dominaram os cegos mais fracos. Primeiro, demandaram objetos de valor. Em seguida, ordenaram que mandassem as mulheres. Essa é a regra da raça humana. Os mais fortes se aproveitam dos mais fracos. Saramago conseguiu ver que os seres humanos, hoje, só não são os malditos seres que podem ser, porque estão sendo continuamente vigiados pelo Big Brother (não o da televisão, mas o de George Orwell) ou o Leviatã (o de Hobbes, claro), que é o conjunto formado pela polícia, justiça, Estado e todos os bisbilhoteiros de plantão da sociedade humana. Quando "socialmente" cegos, a guerra de todos contra todos voltou a reinar... Não só na ficção.


Bem, é assim com vocês, seres humanos, mas nós também fazemos nossas diabruras.


Uma grande mulher, cientista, bióloga e inglesa é a dona Jane Goodall, que pesquisou e pesquisa a minha espécie praticamente durante toda a sua vida (será que é para melhor entender a sua? Não sei). Um fato, que ela constatou, é que nós, macacos ou, mais especificamente, chimpanzés, somos seres cruéis. Ou melhor, capazes de crueldades. Matamos pura e simplesmente por causa de território, com todos os seus privilégios, é claro. E matamos, às vezes, com requintes de maldade. Não sempre. Somente, às vezes. Arrebentamos nossos inimigos. Isso é certo. E a todo custo.


Por isso, não quero que ninguém afirme, por aí, falsidades sobre minha visão de mundo.


Apenas, constato que vocês, seres humanos, são mais vorazes e imbecis. Mais imprudentes e desmedidos.


Não basta matar o inimigo. Parece que vocês querem matar a si mesmos.


Não tenho problemas com isso... É só vocês não me levarem junto.


BOMBA20ATOMICA-full.jpg


Aliás, eu já estou morto mesmo! Tinha me esquecido desse pequeno detalhe.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Comédia: pura e satírica

Faço uma distinção básica entre comédia pura e comédia satírica.


É uma distinção particular. Outros autores têm as suas. Algumas parecidas com a minha, mas que não vêm ao caso...


Comédia pura só tem o intuito de fazer rir. Não tem grandes pretensões e nem parte do princípio básico de que todos os humanos são seres vis, egoístas e canalhas. O comediante "puro", se há algum desse tipo, estaria tão-somente interessado no aplauso e nas gargalhadas do público.


Já o comediante satírico...


Ele deve, em primeiro lugar, FAZER RIR. Se não souber isso, não é comediante. Se não for comediante, não é um comediante satírico.


Mas o intuito principal, o segredo por trás da máscara, é um grande pessimismo e desalento do ser humano.


O grande comediante satírico satiriza a sociedade inteira não para agradar, mas para acusar. Disfarça essa acusação com o humor para seu público.


Se ele falasse claramente sua crítica, seria rechaçado como ingrato, pessimista e infeliz.


Essa é uma justificativa para o uso do humor. Outra, mais profunda, é que o próprio satirista não conseguiria viver, não suportaria as injustiças deste mundo, se não fosse humor.


Se não fosse a capacidade de rir de tudo, sobretudo de si mesmo!


Assim, quando ouvir uma piada, preste atenção, mas muita atenção, pois você pode estar rindo de si mesmo, sem saber.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Voto do Décimo-Segundo Ministro do STF sobre a Reserva Indígena Raposa Serra do Sol



Senhor-Doutor-Ministro-Excelentíssimo-etc. C. Tito







Sobre a reserva indígena Raposa Serra do Sol,


Excelentíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal, eu, como o ministro mais instruído e inteligente de todos os presentes, como o ministro mais capaz e decisivo que este excelso Tribunal jamais teve, já que tantos que aqui vieram e que daqui saíram só por indicações políticas (o Ministro cospe no sagrado chão do STF), eu, que represento a nata da cultura jurídica do Brasil, o ápice do estudo filosófico-jurídico brasileiro e, quiçá, mundial, a mim só equiparando o grande e inigualável Rui Barbosa, eu venho aqui, neste momento, pronunciar meu humilíssimo voto.





Quero ainda deixar registrado o meu protesto quanto às reiteradas tentativas de me interditarem como insano ou incapaz para continuar a tratar de minha própria vida e a julgar neste venerável Tribunal. Tentativas essas que vêm de minha própria família, de meus colegas ministros e da imprensa, em geral. Reconheço, no entanto, que são vis e vãos intentos de odioso caráter político para retirar a voz que clama no deserto, a voz que defende os interesses do povo, a voz que oblitera os interesses poderosos em prol dos ofendidos e humilhados, ao contrário de muitos desta Casa.


Mas não entrarei em maiores pormenores.


Vejamos o processo. Trata-se, conforme dito e repetido por todos, de ação popular contra a União, ajuizada em 2005 e blá blá blá. Não vou ficar repetindo o que dito e redito foi por todos os ministros deste Excelso Tribunal. Todos já conhecem os mínimos detalhes dessa ação. E, conforme ato extraordinário, talvez acossados pela presença de índios guerreiros, ou talvez temerosos da opinião pública, ou talvez receosos do Poder Executivo, de quem muitos aqui confundem relação harmoniosa com subserviência, enfim, vários Ministros tomaram a sua decisão. A mim cabe não ratificar as decisões alheias, mas, sim, pronunciar meu voto, de acordo com meu entendimento e de acordo com a Constituição do Brasil.


Devo garantir que fiquei estupefato com a ousadia do Poder Executivo de demarcar tão extensa área sem a consulta deste Excelso Tribunal. A distribuição harmoniosa dos poderes foi abalada, como um terremoto. Como um mero ministro da Justiça pôde se imiscuir assim em tão sagrados assuntos. A banalização do jurídico é um fato, meus caros colegas! Não posso admitir que o povo venha aqui me dizer como votar o meu voto. Os presentes nesta sessão que fiquem alertados sobre isso. Tomarei minha decisão, independente de pressões ou clamor popular. Analisei, detida e friamente, os autos do processo, cujo relator me parece cometeu vários deslizes, ainda que perdoáveis, pois ele não possui o meu saber jurídico (apenas em sonhos!), e sei que sou o único capaz de dar um voto equânime e justo.


Deixemos de mais delongas e vamos à matéria.


O autor da ação popular considera uma impropriedade, imoralidade e inconstitucionalidade o governo federal demarcar tão grande área de terra para os indígenas. Os nobres ministros, em sua maioria, votaram a favor da continuidade de tão vasta área e da expulsão dos "não-índios". O governador de Roraima afirma, em discutida tese, que uma área tão extensa para os silvícolas seria uma afronta à soberania nacional, tendo em vista o inequívoco interesse de estrangeiros nas ditas reservas indígenas.


A infiltração estrangeira é, realmente, alarmante. Toda vez que vejo um estrangeiro andando calmamente em nossas ruas fico estarrecido. Não que eu tenha algum preconceito contra os estrangeiros, mas é universalmente reconhecido que eles são perigosos, subversivos e maquiavélicos. Sobretudo os norte-americanos. Mas deixemos isso de lado, por enquanto.


O tema principal é a justeza ou não da área delimitada pelo Poder Executivo. Se insular ou se contínua. Se cabida ou descabida!


Vou ao meu voto.


Antes que continuem a me chamar de louco, eu, que sou sábio em matérias jurídicas e ignorante em todo o resto (já que não o preciso ser), consulto à Magnífica Magna Carta no tocante ao tratamento dos indígenas.





Basta ler as singelas palavras do art. 231 da Estupenda Constituição, para se perceber a improcedência da ação popular. Não há dúvidas, nem as suas respectivas sombras. Devo afirmar, desde já, aos índios da região de Raposa Serra do Sol, para ficarem tranquilos, pois eu garanto a eles o que é seu de direito. Devemos respeitar a Carta Magna. Somos, nós do STF, os últimos defensores do cidadão comum e dos índios, que, vá lá, não são cidadãos comuns, mas especiais.


Falta ainda delimitar uma questão maior, mais premente e mais grave desse problema.


Vejamos bem, entendamos melhor, analisemos friamente o Texto Magno. Tudo está ali. Não há outro lugar. Só a Bíblia tem poder de sedução maior. Mas eu sou brasileiro, ministro do Supremo Tribunal Federal e respeito todas as outras religiões, na medida em que elas e seus respectivos crentes não me importunem. Bem, voltemos ao Magno e Excelso Texto. Leiamos este trecho com cuidado analítico: "§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes". Aqui, temos um instituto interessante, a posse permanente , das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. São dois termos que aqui deixamos anotados para a conclusão de nosso voto: posse permanente e terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Estou sendo explícito e didático para não se surpreenderem os incautos e ignorantes de minha capacidade de raciocínio jurídico. Afinal, sou o melhor, pedindo, modéstias à parte, desculpas aos meus menos capacitados colegas.


Voltemos à detida análise: "§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis." Os grifos, claro está, são meus. Quero deixar extravagantemente explícito o meu intuito e o da Magna Carta. As terras são inalienáveis, indisponíveis e os seus direitos sobre elas, imprescritíveis. Logo, chegarei ao fulcro do meu pensamento, ou melhor, do pensamento, podemos dizer, constitucional. Peço que anotem o que digo. Estou chegando, finalmente, ao desfecho.


Para isso, leiamos o parágrafo 6º com cuidado e atenção: "São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé." Aqui está o centro do meu argumento.


Considerando tais fatos alusivos ao caso, considerando o Texto Maior e cabendo a mim o voto final, antes de nosso ilustre presidente, posso proferir meu voto.





Como antecipei, a reserva Raposa Serra do Sol deve ser contínua. Ninguém lá, a não ser índios. Fora, os "não-índios". Que os arrozeiros saiam, procurem outro canto para plantar arroz ou batatas, se os aprouver. Que os trabalhadores vão para o raio que os partam. Que qualquer um não-indígena vá para onde não me interessa saber. A União que lhes dê uma indenização. Uma condição, para a permanência, na reserva é fundamental: os índios devem ficar como são, isto é, índios. Se começarem a aprender português, ou se começarem a aprender a jogar futebol, fora igualmente. Índio é índio, e brasileiro é brasileiro. Mas vamos chegar a esse ponto mais adiante.


No entanto, é pouco. Como assim é pouco? Os autores da ação popular reclamaram, em linhas gerais, que a área era muito extensa. Eu afirmo e comunico: o contrário é que é verdadeiro. A área é pouco extensa.


Cria eu que o caso era simples, mas, ontem, de madrugada, enquanto meditava sobre a origem da vida e sobre a vil tentativa de me internarem como louco, no momento mais inoportuno da insônia, quando todos os pensamentos são fatais, eu vi a verdade. Eu entendi o Texto Maior. Compreendia a injustiça dos séculos. A injustiça humana.


Percebam. O que é o Brasil? Como o Brasil foi criado? Para quem foi criado? Quem criou essa monstruosa instituição?





Os portugueses, e para os portugueses. Pedro Álvares Cabral iniciou uma contínua e gigantesca invasão de terras. Em comparação aos portugueses, o MST é fichinha. Os portugueses invadiram o Brasil inteiro. O MST invade, de vez em quando, uma fazendinha ou outra, e alguns prédios públicos. Desde o princípio, os portugueses invadiram as terras dos índios, invadiram as mulheres dos índios, com ou sem o consentimento delas, e promoveram a maior apropriação indébita da história. Não da história mundial, mas, pelo menos, da história do Brasil.


No entanto, vocês podem argumentar: "Mas nós somos brasileiros. Foram os portugueses. Não fomos nós. Nós não temos culpa dos crimes alheios". Bem, pode ser um argumento plausível para os vencedores. Devo afirmar que, se os portugueses começaram, nós, brasileiros, continuamos. Se os portugueses começaram a destruição, desmatamento e a apropriação, nós, brasileiros, descendentes de dominados e dominadores, nós continuamos.


Quantos indígenas não estão sendo mortos no momento em que escrevo estas palavras? Quantos grileiros não estão dominando o Brasil sem-fim enquanto ficamos discutindo o que é o direito? Isso só para falar dos redutos onde ainda possam existir indígenas. A realidade nas favelas e grandes centros é outra história.


É um fato que os índios, em geral, e não só os da serra Raposa, foram radicalmente removidos de suas terras. Os índios foram, paulatina e continuamente, expulsos de suas terras por uma criação do colonizador europeu. Que criação seria esta? Ora, o Brasil.


O Brasil não é dos índios, nunca foi dos índios, nem nunca será. Criar reservas indígenas é, apenas, adiar o inevitável. O Brasil, esse monstro econômico-histórico, em algum momento, comerá todas as reservas, devorará todas as florestas, não por uma metafísica do mal, mas, sim, para servir aos interesses do capitalismo-mundial. Capitalismo este que é fundamentado nas paixões humanas, em sua sede de poder, em sua ganância do lucro. O mesmo movimento destrutivo, a mesma ação volúpia de poder é que está empurrando e esmagando a floresta amazônica, que matou Chico Mendes, que trucidou Dorothy Stang, que chacinou tantas outras famílias, que trucidará tantos outros índios, que continuará, independentemente do nome e de nacionalidade, com a sua sede devastadora. Não, nobres colegas, muito meditei e não cheguei a nenhuma outra conclusão. O Brasil tudo destruirá. Essa pequena reserva, que parece tão grande, é um nada na imensidão do Brasil. Os índios tinham tudo. Hoje, não tem nada. Os índios podiam tudo antes. E, agora, este tribunal quer ditar regras para suas reservas.





Aqui reivindico o Texto da Carta Magna. As terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas, as terras que são inalienáveis e indisponíveis, cujo direito sobre elas é imprescritível, ora, essas terras constituem o Brasil inteiro.


Dessa forma, a reserva indígena não deve se limitar ao que foi demarcado pelo Poder Executivo, mas, sim, abranger a integridade do território brasileiro. Todo o Brasil deve voltar para os índios.


Pois, eu digo e afirmo o meu voto. A reserva deve ser estendida. Não apenas o limite imposto até agora. Não apenas o limite requerido pelos índios. Não apenas o limite definido pelo Poder Executivo. A nova reserva indígena deve ser contínua. Deve abranger todas as terras tradicionalmente ocupadas por indígenas.


Enfim, deve abranger todo o território brasileiro.


Não mais descendentes de europeus, quer sejam de portugueses, quer sejam de italianos, de espanhóis ou outros. Não mais descendentes de negros. Nada.


O Brasil deve deixar de ser. O Brasil nunca existiu, pois sem efeitos e nulos todos os atos que violaram o direito primeiro dos índios. Mesmo a nossa amada Carta deve ser rasgada e jogada fora, deve ser banida para o cemitério de todas as legislações revogadas, pior a Nossa Magna Carta nem deveria ter existido, assim como todas as outras Constituições.


Os índios devem voltar a reinar neste território. Tudo deve voltar para os índios. A terra era deles e a terra deve voltar para eles. É muita hipocrisia querer delimitar uma área, se a área, antes, era tudo. É muita hipocrisia só expulsar os arrozeiros e seus empregados. Que culpa tinha os arrozeiros de invadir a terra dos índios, se nem o governo sabia onde começava e terminava essas terras? Que culpa temos todos nós? Mas devemos agüentar as conseqüências. Somos a esperança da nação.


A Constituição da República Federativa do Brasil deveria ter como primeiro artigo: "Não será permitida a hipocrisia".


Se não foi escrito esse artigo pelo poder constituinte, será escrito aqui e agora. A hipocrisia é que cria essas chamadas reservas indígenas, relegando aos indígenas um papel subalterno, alienígena e estranho ao corpo da pátria. São tratados como animais em uma floresta ou como atrações em um zoológico. Antes, nós tivéssemos a coragem de proclamar agora o que proclamo. A reserva deve ser totalmente contínua. Todo o território brasileiro para os índios.


Então, eles poderão fazer o que quiser.


Não há limites para os poderes deles, pois, antes, não havia limites a não ser os da imaginação e crueldade humanas.


Assim, os índios podem seguir, em paz, o caminho deles. O caminho que eles teriam seguido caso não fosse a intervenção dos portugueses e, depois, dos brasileiros.





Em paz? Quando é que existiu paz nas coisas humanas? Quando é que os seres humanos trataram com respeito e igualdade outros seres humanos? Os próprios índios guerrearão entre si. Uns serão dominados; outros, dominadores. Haverá revoltas, suplícios, violações, vinganças e muito ranger de dentes. Porque assim somos nós, os seres humanos. Mas aqui não é o lugar de tais considerações metafísicas. Muito físicas, na maioria das vezes.


Para os índios, tudo. Para os brasileiros, rua.


Devemos comandar as Forças Armadas, a Polícia Federal e todos outros órgãos coercitivos para começar a evacuação imediata. Todos os brasileiros devem ser reunidos e mandados para algum território fora do Brasil.


No mais, tenho dito.


(Vossa Excelência C. Tito somente agora teve seu voto publicado, porque foi internado em uma instituição médica muito prestigiosa, de onde conseguiu transmitir essa humilde mensagem para o grande povo brasileiro).

Sobre este Blog

Nada pessoal.

Realmente, nada pessoal. A não ser uns e outros pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.

Esta é a verdade.

Só em alguns momentos vou me manifestar como indivíduo. Em todos os outros, apenas como sátiro.

Sou um escritor. Escrevo.

Da minha escrita, bastam as minhas palavras.

Sátiras são sátiras.

Quem entender que entenda.

Quem não entender, paciência.

Sou um velho, penso como um velho e resmungo como velho.

Minha visão de mundo é de uma constante guerra entre a consciência e a intemperança, entre liberdade e libertinagem, entre tédio e desespero.

Somos humanos e deveríamos ser mais.

Somos humanos. Nada a acrescentar.

Meus resmungos e imprecações de nada servem, neste vasto mundo.

Mas, se só de resmungos e imprecações vivo eu, tentarei transformá-los, como os alquimistas tentavam transformar ferro em ouro, em anotações e anotações, sempre que possível, cômicas.

Porque, se acredito em poucas coisas, uma dessas coisas é na comédia.

O humor nos salva.

Por enquanto.

domingo, 19 de julho de 2009

A GRANDE FALA DO MACACO TIÃO


É grande a presunção do ser humano considerar-se o ápice da criação Divina ou da Natureza.

Posso afirmar que vocês nada disso são. Apenas, são os renegados da Natureza. Tão fracos que precisam de seus grandes tacapes!

Sei muito bem que muitos humanos não acreditam nem que somos parentes: eu e vocês, enquanto espécie, é claro.

Foi necessário um homem, a quem chamam de cientista, cujo nome, se me lembro, era Charles Darwin, dizer a vocês que nós éramos parentes e filhos de um descendente em comum.

Só dessa afirmativa podemos demonstrar que vocês, seres humanos, não estão com nada. Muita empáfia e muita postura.

Nós, os chimpanzés, também temos tudo o que vocês têm. Temos guerras, bandos, machos dominantes e fêmeas no cio.

Só que somos mais estóicos.

Para que sair da floresta?

Ainda não entendi o propósito disso. Sair da floresta foi o erro da raça humana. Erro que nos condenou a todos, se bem ouso dizer.

Por que tudo construir, numa ânsia desenfreada? Construir casas, edifícios, lanchonetes, museus, cemitérios, parques e, o pior de todos, zoológicos?! Por que fazer tudo isso se tudo isso será comido pela Mãe Natureza?

Por que dar-se o trabalho de tudo mudar de lugar? Só para tudo destruir num frenesi descomunal? E isso por quê? Por despeito? Por não conseguirem viver na floresta? Por seus membros não serem fortes o suficiente para agüentar as horas e horas pendurados nas árvores?

A Mãe Natureza, grande deusa que vocês esqueceram e que vocês ofenderam, ainda rirá por último.

Não interessa a ela quanto tempo levará. O Tempo sempre está do lado dela.

Não interessa quantas florestas vocês derrubarão ainda.

Não interessa quantos seres inocentes vocês matarão, apenas por ganâncias, e não por necessidade.

Quando os últimos de vocês ainda rastejarem por esta terra, quando os últimos de vocês ainda viveram nessa movimentação desenfreada que vocês, por incrível que pareça, chamam vida, a Mãe Natureza abrirá a sua boca descomunal e os engolirá a todos.

O problema é que, até lá, vocês ainda farão um grande estrago e nós todos é que pagaremos o pato (com minhas escusas para o colega animal...)

Fica Sarney!



É muito fácil atirar a primeira pedra!
Mais fácil ainda é atirar a segunda, a terceira e todas as outras pedras.
Depois, é tanto que não vemos mais nada, não pensamos mais nada, só seguimos a manada. E atiramos...
Sarney, presidente do Senado, ex-presidente da República, primeiro presidente civil desde o fim da ditadura (há controvérsias, pois alguns afirmam que foi uma ditabranda), um homem mui respeitável, vem sendo atacado pela esquerda, pela direita (existe no Brasil?!), pelo centro, por cima e por... baixo.
Enfim, por todos os lados.
A imprensa toda está gritando: Fora Sarney! Mas não cometamos injustiças. Nunca podemos generalizar. Alguns jornais corajosos (não sei por que, mas são todos do Maranhão) o defendem ardorosamente!
E só políticos honestos e destemidos o defendem também. Políticos, como Renan Calheiros, Fernando Collor de Melo, e o Nosso Guia, Luís Inácio Lula da Silva.
Isso tudo mostra como Sarney é respeitado e respeitável.
Por tudo isso, nós estamos abrindo a campanha Fora Fora Sarney! Ou, melhor, Fica Sarney!
E temos dito.
(Esse movimento nada tem a ver com outros movimentos semelhantes já em andamento na internet.)

Defesa de Nossos Representantes


Muito me aflige o momento atual. Vivemos em um momento de crise. Ou melhor, de crises. Uma crise após a outra. Uma crise gerando outra. Uma crise ao lado da outra. Enfim, crise para dar e vender. A torto e a direito.

Infelizmente, a crise ou as crises estão atacando os nossos humilíssimos e digníssimos representantes. Os eleitos pelo grandioso e inteligente povo brasileiro. Muito me acabrunho.

As nossas instituições e nossos ilustres representantes estão sendo atacados por todos os lados. Ninguém é santo ou freira nessa história toda, como um grande filósofo lembrou.

A imprensa, talvez financiada pelo império decadente, está conduzindo uma campanha contra as sagradas instituições da República.

Onde já se viu atacar o Senado? E a Câmara de Deputados? Atacá-los é atacar a democracia, meus amigos. Não nos deixemos enganar. Devemos prestar bem atenção no que lemos e ouvimos para não concluirmos erroneamente.

O Senado tinha 180 diretorias? O que havia demais nisso? Mas, mesmo assim, muita gente reclamou, gritou, bradou e fez a maior balbúrdia contra isso. Ora, meus amigos, como os nossos ilustres senadores poderiam trabalhar com menos?! Como eles conseguiriam contribuir tanto para a nossa grande Nação com menos de 180 diretorias?! Pasmo fico eu com as pessoas (ingênuas algumas; maldosas outras) que não conseguem compreender a grandiosidade do trabalho dos senadores de nosso país. Eles são verdadeiros heróis, porque deveriam exigir mais e mais diretorias. Merecem medalhas e honra por estarem lá para defenderem nossa liberdade, nossa igualdade e nossa fraternidade. E nós os criticamos por terem 180 diretorias?! Há diretorias para tudo, é claro. Diretoria da Garagem. Diretoria do Aeroporto. Diretoria dos Achados e Perdidos. Todas mui necessárias. Os senadores, sem elas, estariam perdidos!

Pois, deveria haver mais. Deveria haver, por exemplo, a diretoria da Unha Encravada, pois, vejam bem, caso um dos nossos digníssimos senadores tivesse a nobre unha encravada, como é que ele trabalharia para mudar o nosso país?! Uma diretoria da Unha Encravada é mui necessária, e com, vá lá, todos os benefícios imagináveis e inimagináveis para os servidores.

Eu fico envergonhado com a falta de gratidão de nosso povo, pois devemos é agradecer, todos os dias, os senadores por serem tão comedidos e frugais com o uso do nosso dinheiro – que, se estivesse em nossas mãos, seria tão mal usado.

Cometi uma injustiça. Do nosso povo, não. Nós, brasileiros, estamos de parabéns. Sempre elegemos os mesmos representantes, com algumas raras exceções. Quem é ingrato, pequeno e mesquinho é a imprensa brasileira, que adora atacar os nossos insignes representantes.

Quem criou esse circo de crises? Quem está atacando os nossos dignos representantes? Os jornais, a chamada mídia!

Exatamente por essas e outras que alguns de nossos líderes já comentaram que não “ligam” ou não se “importam” com a opinião pública. Ora, como poderiam se importar? No mundo ideal, um mundo ideal para os nossos dignos representantes, bastaria que votássemos a cada quatro anos e, durante esse interlúdio, os eleitos teriam toda a liberdade para fazerem o que bem entenderem.

Ué? Mas nós não os escolhemos?

Se os escolhemos, devemos aturá-los.

Eu fico indignado. Essa que é a verdade. Indignado com essa campanha mesquinha.

Desde quando um homem não pode ter uma amante gostosa e mantê-la com todos os meios possíveis à sua disposição?

Desde quando um homem não pode realizar seus sonhos, como, por exemplo, de possuir um castelo?

Desde quando um homem não pode utilizar sua cota de passagens aéreas para o constitucional direito de ir e vir, ainda que seja o direito dos outros?

E isso não se trata de direito adquirido?! Eles usaram e abusaram desse direito e, agora, por causa de uma campanha na imprensa, acabam com esse direito! Isso é um caso de impetrar uma ação de inconstitucionalidade no STF.

E o subsídio de nossos representantes? Pouco, muito pouco.

Como eles conseguem viver em Brasília, assim?!

Eles cuidam de fazer nossas leis. As leis são regra do jogo. São muito importantes, porque determinam tudo que podemos e não podemos fazer, como fazer, onde fazer e até com quem fazer. Portanto, os nossos representantes deveriam ganhar mais. Apesar de serem exemplos de nossa sociedade, eles também são seres humanos. Seres humanos, como Maquiavel uma vez falou, são volúveis, fracos, orgulhosos e corruptos. Como disse um grande ministro do melhor ministério de todos os tempos, é da natureza humana furtar. Assim, se os nossos representantes não ganharem bem, mas muito bem mesmo, podem ficar mais tentados ao canto das sereias corruptoras!

Claro que algum pessimista ou cético poderia argumentar que, mesmo ganhando bem, os nossos representantes jamais perderiam uma oportunidade de ganhar mais. Bem, em resposta a esse argumento, afirmo tão-somente que tenho o maior respeito pela integridade e honestidade de todos os nossos representantes. Assim, não creio que eles, se ganhassem bem, queiram ganhar mais por outros meios.

Eu acredito neles.

Vocês não?

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