domingo, 27 de setembro de 2009

O Manual dos Manuais de Auto-Ajuda

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Um amigo meu, depois de um período longo sem vê-lo, surgiu do nada com um grande sorriso no rosto e a mão estendida para o cumprimento milenar (ou mais, não sei...), enquanto eu estava deprimido por me encontrar literalmente na pior (financeiramente falando...).

Esse meu amigo se formara advogado em uma dessas novas faculdades privadas que pululam por aí. Durante o curso, ele só pensava em mulheres e farra. Depois, começou uma frenética busca por emprego, sem muito sucesso... Da última vez que ouvi falar dele, me disseram que estava estudando para ser juiz. Pelo sorriso e por sua roupa cara, achei que estava falando com um juiz...

"Então, doutor juiz...", brinquei.

"Que juiz que nada", replicou. "Descobri a fórmula do sucesso!" E antes que eu pudesse perguntar como, pois o meu sucesso não estava lá nada bem, ele já me respondeu: "Sou um autor de auto-ajuda. Mas...", disse olhando para um lado e outro, como se tivesse medo que outros o ouvissem, "mas não me apresento assim, digo como autor de auto-ajuda. Me apresento como consultor para o sucesso." Puxou um cartão no qual estava escrito em letras bonitas: Fulano de Tal, consultor para o sucesso. "Bem, você é inteligente. Acho que você merece essa chance. O meu instrutor vai fazer uma palestra só para os indicados. Eu estou indicando você. Aparece lá e você vai ficar podre de rico. Mas não conte para ninguém. Isso é segredo de estado!" E foi-se embora o meu amigo.

Estranhei o segredo, mas achei interessante participar desse encontro. Não vou comentar o fato de ele me dizer que iria ficar podre de rico... Acho que estou acima disso.

Objetivo deste Blog

Meus amigos,

Como sou um cara humilde, creio que o objetivo deste blog não é ter os cem leitores de Stendhal, mas, sim, os cinco de Brás Cubas. Cinco? Com certeza, cinco (e aqui meu sincero agradecimento aos meus leitores!). Que apenas um leia e compreenda, para mim, já é muito, desde que esse pobre solitário não seja eu.

Escrevo para todos e para ninguém. Sinto-me confortável com o meu anônimo sucesso. (Minto, não é óbvio? Quero que todo mundo goste de mim. No máximo, essa pose altiva é despeito... Mas, às vezes, esse despeito gerou obras fabulosas...)

O objetivo deste blog é apenas falar a verdade de forma satírica, o que nem sempre corresponde à verdade dos espíritos geométricos.

Como o tempo me falta, não vou poder, por algum tempo, encher este blog de posts. Já tenho alguns trancafiados na prisão da minha mente, mas, para libertá-los para o mundo real (ou virtual? Bem, não sei...), como todo escritor sabe, é preciso transpirar um pouco... E o pobre do detento, que na minha prisão mental era tão bonito e espirituoso, sai para o mundo estropiado e pobre de espírito... Mas vá lá!

Enquanto eu tiver alguma coisa para dizer, vou continuar postando... Ainda que de forma esporádica.



Já está quase pronto o próximo post, que provavelmente se chamará "O Manual dos Manuais de Auto-Ajuda".

domingo, 20 de setembro de 2009

Como criar um fiasco de blog



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Percebi que há muitos posts e blogs de qualidade sobre o assunto que, em geral, pode ser chamado "como criar um blog de sucesso". Eu sigo e acompanho avidamente todos esses blogs, que, com benignidade e generosidade, nos brindam com dicas e tutoriais sobre diversos problemas e/ou oportunidades dessa sofrida vida de blogueiro. Aqui vai meu sincero agradecimento a todos esses heróis e heroínas que nos aturam as dúvidas e nos atendem às súplicas.

No entanto, percebi que pouco espaço há para quem não deseja sucesso. Para quem deseja fragorosamente fracassar... Por isso, pondo em prática o conselho de encontrar um "nicho" de mercado, eu encontrei uma oportunidade de levar a meus colegas que desejam simplesmente que ninguém leia seu blog, ou que, por achar muito difícil o caminho do êxito, prefiram a porta escancarada da preguiça.

Como vocês já perceberam, sou um blogueiro de muito "sucesso". Meu sucesso consta de construir e manter um fiasco de blog. Poucos herói visitam esse blog para ler meus desvarios. Eles realmente são herói por aguentar minhas sandices bem calculadas. Uma salva de palmas para esses heróis. E já aproveito a oportunidade para pedir desculpas a esses meus amados leitores que podem se sentir um pouco ofendidos por seguir um blog cujo autor considera um fiasco!

Agradeço também a meus familiares. Nenhum deles teve o desatino de acessar a minha humilde página. Creio que, com isso, mostraram total inteligência e desprendimento.

Deixemos de delongas e vamos ao que interessa. Às dicas para se construir um fiasco de blog!


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Muntadhar al-Zaidi: o homem que jogou os sapatos em Bush

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Vivemos em um mundo de liberdade e igualdade, não é mesmo? Em uma era de prosperidade e de fraternidade! Quando ligamos os nossos fabulosos aparelhos de tv, navegamos em nossos computadores ou quando lemos nos volumosos jornais, ficamos impressionados com a vasta quantidade de notícias sobre a generosidade e bondade humanas. Percebemos que o mundo realmente está caminhando para uma nova era de paz e de fraternidade... Ah, como é bom ser humano neste início de milênio!

domingo, 13 de setembro de 2009

Sarney: um exemplo de perseverança

Depois de ter sido atacado por todos os lados, depois de ter levado um cartão vermelho do Suplicy, depois do tsunami de acusações, depois de terem arquivado todos os processos (e não terem dado chance de defesa ao grande Sarney), depois de todos os pedidos para renunciar à presidência do Senado, Sarney pode ser considerado um exemplo cabal de perseverança.

Ora, ele é brasileiro e brasileiro não desiste nunca!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Da Necessidade dos Jogos

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Em meu penúltimo post, falei sobre a necessidade da guerra, o que muitos amigos meus podem considerar uma blasfêmia. Mas comentar sobre a necessidade dos jogos, apesar de não suscitar tamanhas dúvidas, é, ao mesmo tempo, simples e complexo. Além disso, este escriba, apesar de parecer temerário, crê ser possível traçar um paralelo entre os jogos e as guerras.

Por que jogamos? Por que assistimos jogos? Por que paramos tudo para ver vinte dois homens em um combate para colocar a bola no gol do adversário? O que nos faz aguardar ansiosos essas partidas, esses jogos? Por que, enfim, chegamos a sofrer por eles?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Por que me ufano de meu país

Nesse 7 de setembro, só há motivo de felicidade!

Nem mesmo Afonso Celso foi capaz de imaginar um futuro tão grandioso para o grandioso Brasil.

Pois aqui canta o sabiá, aqui sou amigo do rei, aqui muito petróleo no pré-sal tem!

Eu ainda não entendi, nem vou entender, por que tanto alarde está sendo feito do petróleo do pré-sal. Parece que já estamos extraindo e vendendo com grande lucro esse petróleo para todos os países do mundo. E se alguma coisa der errada? E se não conseguirmos tirar esse petróleo das profundezas do pré-sal? E se custar muito? E se não tiver nada? Ou menos do que clamam ter? Bem, deixemos essas perguntas para lá. Nossos líderes parecem ter pensado nisso tudo, não é mesmo?

Da Necessidade da Guerra(?)



Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

Quincas Borba, grande filósofo


A guerra é necessária ou é apenas uma discrepância do comportamento humano? Essa é uma questão filosófica, amigos! Pois, no bojo dela, vai lá, escondida, subterrânea, ocultada, a questão da bondade e maldade humanas. Se somos seres irremediavelmente maus e terríveis (não importa aqui o porquê, mas, sim, que somos maus), como na maior parte do tempo somos, então a guerra, o estupro, o assassínio, a escravidão são fatos normais de nossa realidade. Agora, caso sejamos intrinsecamente bons e fomos desvirtuados pelo pecado original, Diabo, capitalismo, má educação ou acaso genético, então devemos consertar o que está errado, tomar o rumo certo e sermos felizes para sempre.

Essas duas teorias ou visões do ser humano são as extremas, a do mal e a do bem, mas outras há em que se considera o ser humano, às vezes, bom e, outras, ruim (e muitas, péssimo!). Podemos chamar essa última teoria de mista do ser humano(como sempre há nesses casos, não é mesmo? Seria a tal da tese, antítese e síntese? Ou meio-caminho? Ou o estar-em-cima-do-muro filosófico). E poucos a professaram, pelo menos, abertamente.

Disperso-me, no entanto. Em outro post, continuo tema tão interessante. Nesse, especificamente, falo sobre a guerra. E a guerra como necessidade. Mas que tipo de necessidade seria esta?

A opinião comum e politicamente correta não somente afirma que a guerra é um erro inenarrável e uma afronta à moral e à ética, por matar milhões de seres humanos (sem contar nossos pobres amigos animais...), mas também que é responsável pelo descalabro da máquina econômica, prejudicando os bons negócios do libérrimo capitalismo. Esses argumentos encontram-se espraiados em ampla literatura e nos meios de comunicação. Podemos afirmar que surgiu com o advento da moderna democracia e dos então revolucionários meios de comunicação, que prometiam alterar o mundo para melhor, é claro, e que, por um momento, pareciam ter alterado mesmo.

Depois da Primeira Guerra Mundial, que não tinha esse nome, pois ninguém imaginava uma segunda, os europeus, por terem sofrido anos e anos de carnificina humana perante às máquinas de destruição, comandadas por humanos, obviamente, enfim, os europeus ficaram chocados com esse tipo de guerra. A guerra da era moderna. A guerra das máquinas contra a carne. A guerra química. Antes, na época de Napoleão, de César, de Crommwell, a guerra era um fato mais aceitável e, em muitos casos, venerado. Matar com espadas - enfiar a lâmina na viva carne humana para rasgar e trucidar - não era pior que matar com o moderno armamento de fogo, ou seria? É só assistir aos filmes de Mel Gibson, em especial Coração Valente, para perceber que as guerras de lanças e espadas eram muito mais civilizadas do que as atuais.

No entanto, nesse meio tempo, entre a Revolução Francesa e a Primeira Guerra, houve a revolução industrial e tecnológica. Enfim, o capitalismo triunfou. E o cálculo matemático dominou os generais. Ou melhor, o cálculo econômico. (Um amigo meu, mais erudito e esperto, me afirma que sempre foi assim. Quem tinha como financiar as guerras a longo prazo, é que levava as batatas para casa. Citou até um livro, A ascensão e queda das Grandes Potências de Paul Kennedy - e eu fiquei assoberbado com minha ignorância...). E, com o cálculo econômico, as considerações de como matar com o menor custo - e suas aplicações imediatas. A metralhadora foi um bom avanço nesse sentido, e os cientistas que a fizeram pensaram haver construído a arma perfeita. Ledo engano. Muito ainda pode se aperfeiçoar nesse sentido. É só assistir no National Geographic.


Mas, depois que a máquina entrou no jogo da guerra, os conflitos perderam o glamour inicial. É só ver no Último Samurai de Tom Cruise. Assim, os cidadãos, tementes a Deus, quiseram banir a guerra como forma de resolução de conflitos. Leiam a Carta das Nações Unidas e verão que o mundo seria um lugar muito melhor se todos se resignassem e obedecessem os EUA... Não seria um mundo bem mais simples? Pelo menos, para os norte-americanos.


Também creio que, com a criação da bomba atômica (ai de nós, por Nagazaki e... como era mesmo o nome da outra cidade?), os seres humanos pensem bastante antes de começar uma nova guerra. Pelo menos, contra alguém que tenha a bomba. Se vocês tiverem e o outro não, pensem bem de quem é a vantagem.


E a Segunda Guerra foi causada por um homem, Hitler, que via na guerra a própria essência de evolução da espécie. Se os outros, sobretudo os ingleses e norte-americanos de então, acreditavam fielmente que poderiam evitar a guerra, dando de graça o que Hitler queria, como é que não perceberam que Hitler estava disposto a conseguir mais tirando à força? Só um Churchil, talvez... Quando os pacifistas ingleses viram que teriam de aturar uma ditadura alemã, os brios nacionalistas fizeram muito deles pôr entre parêntesis suas crenças e aderir à guerra. Pois, no jogo diplomático internacional, ninguém quer ficar por baixo, mas só por cima. Nem mesmo os homens tementes a Deus.


Pois, foi um homem temente a Deus, da Nação defensora da democracia, que iniciou uma guerra. De George Bush podemos falar horas e horas a fio. Já o fizemos grande líder da humanidade, em um post anterior, mas, desse grande líder, não podemos duvidar que era um homem muito inteligente e modesto.


Pois, vejam bem, o argumento que usou para iniciar a guerra no Iraque foi, ao mesmo tempo, brilhante e simplérrima. Você está na sua casa quieto, mas sabe que tem um inimigo. Você sabe que tem um inimigo e, por isso, tem um arsenal inteiro de armas em sua casa. Você, aliás, já deu uma surra nesse seu inimigo por alguma desavença anterior. O inimigo diz para você que não está produzindo ou comprando arma nenhuma. O inimigo diz que não tem intenção nenhuma de atacar você. Mas como acreditar no inimigo? Melhor mesmo acertar uma paulada na cabeça dele antes que ele acerte na sua. Está aí, meus amigos, a teoria da guerra preventiva. Melhor prevenir do que remediar... Mas o Saddam não tinha as armas de destruição em massa? Bem, detalhes... E, se não tivesse, poderia ter, não é mesmo? Por essas e por outras, é que Bush pode ser considerado um dos grandes líderes da humanidade.


Assim, também o argumento de que a guerra pode ser maléfica para a economia carece de fundamento. Pode ser prejudicial para parte da economia, mas, para a economia como um todo, muito pelo contrário. Basta recordar que a Alemanha passou por uma grave crise econômica antes da Segunda Guerra e que Hitler trouxe o crescimento econômico quando começou a se preparar para as batalhas. Dessa forma, a indústria bélica sempre agradeceu as eventuais guerras no mundo. E, se lembrarmos que a indústria bélica emprega muita mão-de-obra, não podemos ser indiferentes aos prejuízos para esses pais e mães de família. O que seriam deles se não houvesse guerras no mundo? Poderíamos ser indiferentes - como o somos - às guerras e genocídios que ocorrem todos os dias em algum lugar remoto do planeta. Poderíamos ser indiferentes à guerra que ocorre ao nosso lado, nas favelas. Poderíamos ser indiferentes a tudo, mas à queda na produção da indústria armamentista- isso é ir além dos limites.


Bem, acho que muito falei. Creio que nada provei, mas não era meu intento. Apenas um devaneio pelo que muitos consideram um mal, mas que é uma constante, ainda que intermitente, da vida humana. Pode ser que a guerra só desapareça da face da terra quando o último homem também desparecer...

sábado, 5 de setembro de 2009

A Vaca Mimosa se Apresenta ou a Revolta dos Animais

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Venho aqui, a contragosto e com muita má vontade (e, obviamente, correndo perigo de ser "despachada" desta para melhor), me insurgir contra vocês, seres humanos, destruidores de meus iguais, sanguinários de minha espécie, carniceiros de minha prole.

Ó seres humanos, como vocês podem ser tão sedutores e tão gentis, quando nos alisam, quando nos alimentam, quando nos ordenham! Podem ser também cruéis nos machucando e maltratando, batendo e chicoteando! Cruéis quando nos separam de nossa prole, para nosso leite melhor tirar! Mas todos, os gentis e cruéis, sempre têm algo em comum. No tempo da matança, vocês, sem piedade nem dó, nos abatem como se fôssemos apenas alimento! E, para vocês, raça mísera, somos apenas alimento! Não é verdade? Vocês podem até mesmo falar conosco, como muitos de vocês fazem. Mas a mesma mão que nos afaga é a mão que nos mata.

Vivo no campo. Apesar de haver muitos pastos verdejantes, eu sei que sou uma prisioneira. Há cercas com arame farpado se eu andar para qualquer um dos lados. Muitos dos meus iguais não se importam, desde que tenham pasto e água.
 
Afirmam que basta ter comida e um pouco de espaço para caminhar. Aliás, aqui em minha prisão, há muito espaço. É uma das maiores prisões de gado que jamais vi ou verei. Sei qual é o meu destino. Uma vez, vi o que vocês fazem conosco! Com os meus próprios olhos!

Porque devo dizer que muitos de nós não acreditam. Conheço o boi Zebu, defensor da raça humana, que me difama perante o nosso rebanho. Afirma ele que estou com a doença da vaca louca, que eu sou uma comunista, que sou uma porca safada (não gostamos dos porcos como vocês gostam!). O boi Zebu, em vários discursos, ataca meus argumentos contra vocês, humanos, e defende que, sem a sua ajuda, estaríamos entregues à sorte da Mãe Natureza, que seríamos presas de onças ou cachorros-do-mato. Os seres humanos, segundo ele, por sua bondade infinita, prepararam e cercaram verdejantes pastos para que nós, os seres bovinos, pudéssemos tranquilamente viver. Os seres humanos são os nossos mais queridos irmãos! Que raça benigna! Que espécie maravilhosa! Foi por isso que Deus concedeu a eles a inteligência, que é capaz de moldar a natureza a seu bel-prazer.

Devo confessar que, por muito tempo, segui as orientações do rebanho. Boi Zebu é o macho reprodutor. É o dominante. É dele a tarefa de transar com todas as vacas de nosso rebanho, inclusive eu. Dele, já tive dois machos. Boi Zebu gosta de ser líder e ama os seres humanos. É um macho feliz e musculoso. Diz ele que já foi levado a exposições onde era mostrado e admirado por muitos humanos. Fiquei impressionada, devo admitir. Mas vou contar por que me transformei em crítica dos humanos.

Alguns de nós, mais desconfiados do que a maioria, sempre suspeitaram da benignidade humana. Sempre éramos separados em determinadas épocas do ano. Escolhiam alguns e esses eram levados embora e nunca mais os víamos ou ouvíamos falar deles. Boi Zebu e os defensores dos humanos sempre argumentavam que esse gado estava sendo levado para terras melhores ou, se houvesse alguém de quem não gostássemos, afirmavam que eram degredados para as terras sem lei.

Não sabíamos para onde iam os nossos iguais. Poucos se importavam, no entanto. O que importava era a comida, o tempo e o sexo. Não pensamos muito. Pensar é um hábito dos humanos. Sei que não da maioria, é claro.

Eu vivia a minha vida, como todas as outras vacas daqui. Quando tive meu último bezerro, que nasceu manco. Eu senti por este filho um amor sem limites. Queria protegê-lo de tudo e de todos. Os humanos conversavam muito entre si, aparentemente sobre ele. Eu não sabia o que eles estavam mugindo (o mugido de vocês é muito irritante, parece com o dos macacos). Mas, com certeza, as ideias trocadas eram sobre o meu pobre bezerrinho. Então, eles o levaram. Eu briguei, embirrei, tentei fazer de tudo para protegê-lo. Mas vocês são mais hábeis e mais espertos. Ludibriaram-me. Meu bezerro muito mugiu, em súplica. Vocês o levaram, no entanto. Fiquei arrasada e, naquela noite, não fiquei junto com o rebanho, mas, sim, permaneci perto do curral - lugar onde somos constantemente usadas e abusadas por vocês.

Meu bezerro me chamava a noite toda. Sabia que ele estava me chamando e eu o chamava de volta. Ficamos nesse suplício durante toda a noite. Em algum momento, comecei a ouvir o som de facas sendo afiadas. Tornei-me atônita. Prestava atenção em cada movimento. Meu filhinho foi levado do curral para outro lugar. Um garoto, que acompanhava os adultos, voltou-se para mim e passou o dedo indicador pelo pescoço, fazendo o sinal de morte. Fiquei horrorizada e aumentei meus brados pelo meu filhinho manco. Os homens nem sequer me olharam, continuaram seu caminho, com meu bebê manco logo atrás. Eu os perdi de vista.

Meu filho não mais berrou naquela noite.

Perturbada permaneci por muitos dias. Nesse momento, comecei a perceber que vivíamos em uma tirania. Pode uma mãe ficar longe de seus filhos? Pode uma mãe ser separada dos seus filhos para dar o leite para estranhos? E se eu quiser sair para encontrá-lo? Eu estou presa aqui. Completamente presa. Sou uma escrava.

Nesse período, eu procurei o velho touro Barnabé. Já estava idoso e seu ódio aos humanos era imputado por estar totalmente esquecido por eles. Eu o procurei, porque comecei a concordar com os seus pensamentos. E foi assustador o que ele me disse.

O touro Barnabé participara, quando jovem, dos grandes torneios. Nessas idas e vindas, ele viu terríveis fatos. Acusou os humanos de serem vampiros. "Vampiros?", perguntei aterrorizada. "Sim, vampiros", ele continuou. "Vampiros que nos matam a todos, arrancam nossas tripas e abocanham nossa carne. Eles nos puseram aqui para engordarmos, para ficarmos fortes e para, em seguida, usar nossa carne em seus festins diabólicos. São desumanos os humanos. Outros animais que nos caçam, como as onças ou leões, só pegam um ou outro e se satisfazem somente com o necessário. Os homens, não. Para eles, temos que viver uma vida na prisão, uma vida de servidão para, no final, sermos abatidos como porcos! E eles usam tudo de nós. Até nossa bosta!! Até nossa bosta eles usam como adubo! São feras egoístas e descomunais! Eles nos prenderam aqui e a matança deles é metódica e cruel. Entramos em uma fila, em uma grande indústria, e somos abatidos em uma linha de produção. Depois, nos esquartejam e vendem a nossa carne para muitos outros humanos. Chamam isso "lucrar". Fiquei aterrorizado, pois vi um irmão ser devorado por eles, no que chamam "churrasco". Porcos são todos os homens", bradou o velho Barnabé.

Aterrorizada permaneci. Por muitos anos, acreditei em vocês. Amei vocês. Sei, no entanto, que santos vocês não são. Mas ainda tremo com os mugidos de Barnabé. Ainda não consigo acreditar. Então, a nossa vida é apenas isto ? Ser pasto para vocês? Me respondam, pelo amor da Mãe Natureza! Eu custo a acreditar! Quero saber. Quero saber toda a verdade, caros carrascos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Hugo Chávez

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Mais um grande líder da humanidade!


Pensei que só escreveria sobre líderes que não fossem mais líderes, isto é, que já tivessem perdido o seu cargo para outro. Mas não é o caso desse grande homem, desse líder único da esquerda revolucionária do mundo (quando não há mais outras opções!), desse novo Bolívar que vai unificar todo o continente hispano-americano e formar com os hermanos uma grande potência (contra a potência lusitana?)!


Muito provavelmente, ele não deixará o poder nas próximas eleições. Nem nunca mais. Será novamente eleito, nos braços do hercúleo povo venezuelano! O que são dez anos perante a implementação da república socialista? Nada. E só uma pessoa pode implementá-la. Quem? Acho que vocês já sabem a resposta...


Tentou chegar ao poder por todos os meios. Golpe tentou dar. Golpe, não, me desculpem... Revolução (que é como chamamos o nosso golpe!). Não conseguiu. Depois, foi para as urnas e se deu bem. De golpe para eleições e, de novo, para golpe só que agora contra ele, o Hugo Chávez.


E quem foi socorrê-lo nesse momento difícil? O nosso grande líder. O nosso grande guia. O nosso grande guru (espero ansiosamente ter um pouco de dinheiro para comprar o seu dicionário!). Luís Inácio Lula da Silva, que mais parece ser mãe dos nossos hermanos.


Quando Hugo Chávez chegou ao poder, ele sabia que ninguém o tiraria mais de lá, a não ser morto. Ou por um golpe militar, economicamente financiado pelos EUA (básico!).


Quando ameaçado pela maior potência do mundo (que mostrou uma enorme impotência perante a crise financeira mundial), Hugo Chávez é o único que tem coragem de se levantar e lutar contra a opressão estrangeira.


A Colômbia quer abrir suas bases militares para os norte-americanos? Só Hugo Chávez poderá nos salvar. Nem Fidel, nem Raúl. Só Chávez.


O que seria de nós sem tal líder? A quem recorreríamos?


Imaginem se déssemos ouvidos aos apelos dos jornais, estações de rádio e de tv que foram fechados. Eram todos vendidos para os interesses estrangeiros. Se não obedeciam a Hugo Chávez, não teriam chance na Venezuela. Esse negócio de liberdade de imprensa só serve em democracias fajutas, servas do capitalismo global e maquiavélico. Na Venezuela de Chávez, só há espaço para a verdade. Uma verdade. A de Chávez, é claro.


E tomem cuidado os norte-americanos. O seu tempo está passando. Se quiserem desafiar Hugo Chávez, é melhor se armarem. Pois, se mexerem com Hugo, Hugo começa uma guerra. Será como Davi e Golias. E Golias vai se dar mal...


Só uma inconveniente propensão para muito falar, é claro. Mais de um pensou, mas só um falou: por que não te calas? Tudo bem, porém. O muito falar provém do muito pensar, não é mesmo? E ninguém pode duvidar de que Hugo Chávez é um grande pensador. Agora, ele vai transformar as escolas de seu país em lugar de catequese de suas ideias. Nada como um pensador democrático e justo! Só há uma verdade, é claro! A dele!


Por isso e muito mais, gostaria de dizer que Hugo Chávez, junto com George W. Bush (acho que eles não se davam muito bem não...), é e sempre será um dos grandes líderes da humanidade!

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