quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eleições: O Festival da Democracia ou Quando a Cara de Pau é Pouca...

Sabemos, desde os primórdios da democracia moderna, que esse negócio de eleições iria nos perseguir o resto de nossa precária existência. A cada dois anos, uma nova campanha. A cada dois anos, o mesmo martírio, as mesmas cenas, as mesmas mentiras. A cada dois anos, caras velhas e novas, joviais e arrogantes, ou humildes e tristes. A cada dois anos, nós temos o espetáculo da democracia, a incrível peça de teatro do estado de direito.

Para uns, é uma comédia. Para outros ou para a maioria, uma tremenda tragédia.

Mas por que estou reclamando das eleições? Não são elas a Festa da Democracia? Não são elas o coroamento de nosso sistema político? Não são a melhor maneira de se governar no mundo?



Quando retornei a postar neste blog, afirmei que nada falaria sobre política. Bem, posso afirmar que eu não seria específico em relação a beltrano e fulano. Na verdade, ainda não decidi meu voto. Só sei que muito provavelmente meu voto será um voto com o nariz tapado. Sim, com o nariz tapado, do tipo que não aguenta mais esse fedor, catinga e mau cheiro predominante neste momento político brasileiro.

Mas é exatamente esta a minha questão: em que momento na política brasileira e também, meus caros, sejamos cosmopolitas!, na política mundial, em que momento houve uma campanha limpa, sem fedor e catinga?

Sei que devemos ser cívicos. Devemos votar conscientemente. No meu entender, no entanto, nossa democracia é falha. Não somente falha, mas um acúmulo de falhas, de brechas, de deslizes. Quando alguém se torna poderoso, quando alguém se elege, logo surge a empáfia, surge o poderoso chefão. É o coronel. É o senhor de escravos. De nossa história. A nossa história sempre se repete. Os mesmos voltam, os mesmos reinam, os mesmos engordam. Aos honestos sobre a esperança de um reino de outro mundo, onde os culpados serão punidos, pois, neste mundo, raramente o são.

O que, no entanto, me encanta e desespera no pressuposto da democracia moderna é a esperança em relação ao ser humano. Todo mundo, que estudou um pouco de filosofia política, sabe que Hobbes defendeu o Leviatã, a tirania total, para suprimir a guerra de todos contra todos, que Locke o atacou ao postular direitos naturais dos seres humanos, que Montesquieu postulou a limitação do poder pelo poder e que, finalmente!, Rousseau foi o grande defensor da democracia. Pois bem, de todos eles, foi Rosseau, com seu pré-romantismo, com seu idealismo, que igualmente e com veemência advogou a causa do ser humano bom por natureza, corrompido pela sociedade. Esse é um dos fundamentos da democracia moderna. O homem é bom por natureza. É só deixar ele expressar sua bondade, deixar ele ser feliz que tudo ficará bem, que tudo se resolverá.

Bem... Temos alguns milênios de bondade humana nas costas desta rocha chamada planeta Terra! Temos alguns milênios de história para nos ensinar sobre a bondade humana! Mas, em última análise, não podemos dizer se o ser humano é bom ou mau por natureza, pois o ser humano é sempre essa constante dúvida. Podemos afirmar que, com muita probabilidade, ele é ruim, mesquinho, egoísta, mentiroso, etc. Mas, vez por outra, aparece um que nega isso tudo! Maldito ser humano! Nem no mal é totalmente constante e, por isso, não podemos condenar toda essa maldita raça de uma vez!

Dessa forma, a democracia é filha de uma audácia, de uma esperança, de uma vontade. Somos bons por natureza. Saiam para lá, filósofos pessimistas. Assim, a melhor forma de escolher nossos governantes seria pelo voto. Melhor forma? Não creio. Acho que a melhor forma seria por um sorteio. Isso sim! Um sorteio. Compraríamos bilhetes como compramos para a mega sena, faríamos bolões (em que prometíamos todos os toma-lá-dá-cá), torceríamos para ganhar no dia e, pronto!, seríamos os governantes de nosso município, estado, país! Não é uma ótima forma de se escolher nossos políticos? Claro que precisaríamos de uma justiça eleitoral que realmente fiscalizasse as máquinas de sorteio. E, não duvidem, meus amigos, essa nova maneira de escolhermos nossos dirigentes seria muito melhor do que a atual. Devemos deixar ao grande Acaso a escolha de nossos legisladores e dirigentes.

Mas vivemos em um mundo de voto. E de voto obrigatório. Assim, meu caro, para não ter problemas com a justiça, você deve votar. Não é só seu direito, é seu dever. E, se não votar, olha lá, hein? Vivemos realmente em uma democracia em que você é obrigado a exercer seu direito. Vivemos em uma democracia eletiva. Escolhemos nossos políticos. E como escolhemos nossos candidatos? Vendo-os na tevê. A maioria escolhe assim. Vê o programa de tevê e, se o político tiver bastante tempo na tevê e tiver um profissional de marketing (marqueteiro pega mal!), bem, aí, ele realmente tem chance de obter o voto. Se se sair bem na fita, então...

Ideias políticas? Programas de campanha? Reforma tributária? Bem, isso é papo de políticos, entre políticos e jornalistas políticos que, cada vez mais, estes últimos se tornam políticos.

Bem, a culpa é de Rousseau, em minha humilde opinião. De sua crença na bondade inata da humanidade. Se tratássemo-nos com mais um pouquinho de zêlo, se crêssemos que somos capazes do que somos capazes, talvez tivéssemos criado salvaguardas contra o nosso apetite e nossa ambição.

E podem me crer, irmãos: o apetite e ambição dos nossos candidatos são muito maiores do que a maioria.

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