terça-feira, 1 de junho de 2010

Bullying: o caso de Bobo

Meu nome é Bobo. Já me apresentei a vocês aqui. Não é bem meu nome, mas um apelido, pois todo mundo me chamava de bobo e ninguém que eu conheça me chama pelo nome de batismo, nem mesmo minha pobre mãe. Acho que já falei isso pra vocês, mas não me lembro muito bem, porque sou Bobo, o bobo.
Hoje, meu amigo, o autor satírico deste blog, me pediu para falar de bullying. Eu perguntei o que? Disse que não sabia falar inglês, nem francês, pois não saía nada da minha boca que não fossem as palavras que sempre falo. Ele falou que eu falo português, mas, dando com os ombros, respondi que nunca vi nenhum português a não ser o seu Joaquim da padaria, mas o seu Joaquim já faleceu e, se eu o vir de novo, vou correr muito, pois tenho medo de alma penada.
Mas meu amigo satírico me explicou o que é bullying, que é uma forma de perseguição e de acusações que as crianças fazem com uma criança só, por ela ser gorda, homossexual, diferente, doente mental ou qualquer outro motivo. Ele me falou que, agora, vários pais estão entrando com processos na justiça para ganhar dinheiro e que, talvez, eu devesse entrar também.
Respondi, no entanto, que eu nunca sofri esse tal de bullying nem no colégio, nem na rua.
Todos os meus colegas de colégio, já todos crescidos, continuam sendo meus amigos. Eles sempre me trataram bem.
Vou falar como eles me tratavam.
Quando entrei pra escola, vários garotos já me conheciam da rua ou eram mesmo meus vizinhos. Algumas mães não gostaram de me ver matriculado na mesma escola de seus filhos, por causa da minha mãe, mas eu nunca entendi porque, só vou narrar os fatos como eu os vi e senti. Assim, alguns garotos, desde logo, ralhavam comigo, me batiam, e faziam todo o tipo de brincadeiras. Coisa de criança, né? Chamavam minha mãe de prostituta e eu respondia que ela era isso mesmo. Aí, eles caíam na gargalhada. Talvez eles não soubessem o que uma prostituta faz, mas eu que não ia explicar, porque sou bobo. Diziam que eu era um babaca mesmo ou que era um bobo. Gosto mais de bobo do que de babaca, imagine se meu nome tivesse virado babaca, ia ser bem pior do que é agora.
Todos os dias, eu tinha que tomar cuidado para não sentar em alguma coisa que eles pusessem na minha carteira, como cola, bosta de cachorro, mijo, catarro, bosta de cavalo e, até uma vez, bosta de gente mesmo. Eu sempre me sentava, porque eu esquecia sempre de olhar. Todos riam, e eu ria também, pois não queria parecer bobo. Todos apontavam para mim e morriam de rir. Eu era o bobo da corte, diziam alguns para mim. Não sei o que é corte, mas deve ser algum lugar bom, não é mesmo?
Além disso, na hora do recreio, eles faziam várias outras brincadeiras comigo, como chutar ou passar a mão nas minhas nádegas, abaixar minhas calças ou sumir com elas, levantar minha cueca, dar petelecos em minhas orelhas até o ponto de fazê-las sangrar, usar-me como alvo para tiros de vários objetos, de cuspe, de pedras, de todo e qualquer tipo de líquido, etc. Eu sempre ria bastante para verem que eu estava gostando, tentava falar para fazerem isso com os outros também, mas eles riam e diziam que era minha vez. Sempre era minha vez. Nunca vi outro levar por mim.
Mas eles diziam que sempre acontecia, então eu acreditava neles. Por quê? Porque sou Bobo, o bobo.
As meninas também me zombavam. Algumas faziam caretas para mim. Eu ficava quieto, mas meus colegas me incitavam à revolta. Sou pacífico por natureza. Mas meus colegas, não. Eles sempre estavam buscando confusão e se metendo em brigas. Sempre queriam mostrar quem era o maioral, quem mandava e quem batia em todo mundo. Eu tentava ficar quieto, mas sempre era vítima dos valentões. Então, eles mandavam eu beijar a garota tal que, me diziam, estava apaixonada por mim. Eu ia lá beijar, e a garota me dava um sopapo bem no meu lado esquerdo. Instintivamente, eu não seguia o mandamento do Cristo, pois um sopapo bem dado, ainda que por uma garota, dói pra burro! E a garota começou a me chamar de todos os piores nomes que jamais ouvi. Minto. Ouvi nomes piores em outras ocasiões. O que me magoou, no entanto, foi ela ter me acusado de monstro, que ninguém nunca ficaria comigo, que ninguém iria querer ficar com tal bobalhão paspalho. Isso doeu mais do que o sopapo na cara. Bem, não muito mais, porque aquela garota tinha a mão pesada. Mas ela estava errada. Ainda vou encontrar minha Dulcinea del Toboso. Ainda não encontrei, mas vou encontrar.
Sei que muita gente se impressiona com meu relato. Não sei o porquê, fui uma criança feliz. Aliás, continuo sendo, pois acho que não mudei nada na minha vida desde minha infância. Continuo sendo Bobo. Meus colegas de escola, no entanto, mudaram e mudaram muito. Alguns já foram embora para o cemitério, onde Matusalém, o coveiro, me falou que eles viraram comida de vermes. Outros se tornaram médicos, advogados e alguns bêbados. Bem sei que muitos vão ao encontro de prostitutas, principalmente aqueles que condenavam a minha mãe. Mas tudo bem! Não guardo rancor de ninguém. Por quê? Ora, porque sou Bobo, o bobo.

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