quarta-feira, 2 de maio de 2012

Reforma Política Revisitada ou Laranja Mecânica para os Nossos Nobres e Honrados Políticos

Podemos observar certo marasmo em torno da questão da gloriosa Reforma Política. Depois de tantos casos de corrupção, creio que seria a reforma a ser implementada. No entanto, os políticos parecem discordar de mim. Ou melhor, todos concordam com uma reforma política, mas qual reforma ainda é um caso a se discutir, não é mesmo? Vocês mesmos podem ver que tratei bastante desse assunto em meu arquivo de textos (sobretudo aqui, aqui e, ufa!, aqui). Algumas propostas ainda não foram devidamente testadas, como o Big Brother de Políticos, mas eu, depois de muito deliberar comigo mesmo no silêncio da noite e na solidão da loucura, cheguei à triste conclusão de que, mesmo com toda a vigilância possível e impossível, mesmo se instalássemos um microchip no cérebro do homem político para registrar todas as suas ações e pensamentos, ainda assim poderíamos ser ludibriados pelo nosso ilustríssimo representante. Justo dizer que os nossos políticos mostraram-se em todas essas décadas de renovada democracia grandíssima habilidade na arte de furtar e de enganar.

Dessa forma, precisamos de uma reforma mais radical. Precisamos entrar na psique mesmo do político e inibir, de dentro para fora, a corrupção.

Tal resultado somente pode ser alcançado sendo utilizados os métodos pavlovianos ou, melhor, burgessianos para tratar os políticos.

Quem não viu o filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick? Bem sei que muita gente, pois estão mais interessados em assistir filmes infantis como Os Vingadores, etc. Mas o filme apenas delineia o que é o livro homônimo de Anthony Burgess (possuo a edição brasileira traduzida por Fábio Fernandes, da editora Aleph). Nesse trabalho de ficção, quero dizer, científico, vemos o clássico herói Alex ser condicionado a não mais cometer atos violentos.

Como se deu tal fato?

Ora, o ilustríssimo dr. Brodsky utilizou o antiquíssimo método de associação: associou atos violentos à náusea e dor. Fez isso por meio da solução de Ludovico. Assim, o herói do romance, Alex, que era, enfim, um estuprador, ladrão, arruaceiro, líder de facção criminosa, assassino e um contumaz delinquente, tornou-se um pacífico cidadão por meio da dor. Toda vez que pensava em praticar atos de violência, ele sentia dores e náuseas e, com isso, não conseguia praticá-los. Claro que o romance ainda toca no assunto do (tão valorizado...) livre-arbítrio, mas isso não vem ao caso....

Alex foi obrigado a assistir vídeos em que se cometiam atos de pura selvageria, com a droga no sistema, que o fazia passar mal.

Podemos facilmente aplicar esse método aos nossos ilustres e honrados políticos.

Imagine uma pessoa que queira ser candidato a um cargo público. A ficha limpa, bons antecedentes, etc. não significam nada. O futuro político nem teve chance de botar as mãos na verba pública ainda! Assim, ele ou ela passaria por um treinamento anticorrupção.

Ele ou ela seria obrigado a assistir vídeos em que propinas fossem oferecidas (e aceitas...), em que fossem dados cargos para parentes, em que fossem criados esquemas de mensalão, em que fossem concedidos favores políticos em troca de favores sexuais (ou qualquer outro tipo de favores...), etc. Tudo isso sob efeito da solução. Se viesse a pensar em praticar atos de corrupção, o futuro candidato sentir-se-ia mal, enojado e, caso insistisse nesses atos, dores profundas e, talvez, até mesmo viria a morrer.

Esse procedimento poderia ser feito pela Justiça Eleitoral, no momento em que o candidato oficializasse sua candidatura. Para garantir a lisura do procedimento, ele deveria ser acompanhado por representantes de outros partidos, da sociedade civil e, nos casos de eleições presidenciais, por enviados da ONU.

Imagine, leitor, com os poderes concedidos pelas maravilhosas células nervosas dentro de sua caixa craniana, que mundo fantástico será o nosso! Quando os políticos não puderem mais roubar, aceitar propinas, interceder em favor de amigos e filiados, brigar por cargos públicos, etc. Imagine, leitor, por exemplo, que um senador receba a ligação de um “amigo” e que esse amigo peça uma “ajudinha” na concessão de uma licitação pública. O senador, antes mesmo que possa responder, já começa a passar mal. Ele começa a suar, tremer, babar e não consegue dizer sim para o esquema. Antes mesmo que tenha tempo de concordar, ele diz não, que a República deve ser transparente, que a Coisa Pública não pode ser loteada dessa forma. E o mal estar dele passaria rapidamente.

É claro que aqui somente usaríamos esse método de forma ética e responsável. Não tentaríamos mudar a esfera íntima da moral do indivíduo, como, por exemplo, incutir nele que o adultério é errado. Como definido pelo Código Penal, o adultério não é crime, sendo uma questão estritamente particular. Usaríamos esse método, conforme foi dito, apenas para a relação pública-privada do contribuinte.

Digamos, por exemplo, que o político ganhe o presente de um bicheiro – um caso atípico que jamais aconteceu em nosso país. Um presente não significa nada, mesmo que tenha custado trezentos mil reais. Mas, se o político, em seu foro íntimo, considerar que o presente pode ser uma forma de conseguir um favorecimento futuro, o político passará mal, sentirá náuseas, vomitará e poderá ser internado. Por conseguinte, somente quando a coisa pública está ameaçada é que ocorrerá a intervenção fisiológica.

Com esse método, acredito eu, os casos de corrupção se extinguirão e serão apenas fatos históricos.

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