domingo, 7 de outubro de 2012

Ainda as Eleições...

Hoje é dia de eleição. O momento mágico da democracia.
Se você acredita nisso!
Claro, claro. Virá e alguém e me dirá que estou sendo cínico, abusado e profanador da mais alta e idolatrada forma de governo,a democracia (pelo menos, do Ocidente. E não sempre...).
Não me levem a mal. A democracia, conforme dito por Churchill, é a menos pior de todas as formas de governo. Bem entendido, eu não acredito que exista a melhor forma de governo. Assim também como não há melhor dos mundos possíveis. Para mim, diferente de algumas pessoas mais radicais, um mundo onde tudo fosse democrático, isto é, onde todos poderiam decidir sobre tudo e todos por meio do voto (algumas universidades federais operam dessa forma...), seria um mundo bem mais chato e demagógico de se viver. Por isso, as eleições a cada dois anos, para mim, já está um pouquinho razoável.

Sou contra o voto obrigatório. Já fiz um texto sobre isso. Afirmam uns e outros que o voto obrigatório aumenta a legitimidade do sistema (pois obriga ao máximo número de pessoas votarem) e inibe o voto só de uma parcela da população (os ricos estariam mais inclinados a decidir o futuro, por terem melhor condição, educação, etc.). Balelas. Várias nações dos mundo, onde o voto não é obrigatório, vivem bem e obrigado. Se você quer "mudar" a situação, tem que votar. Se não votou, é porque ou está feliz ou é indiferente (ou nenhum dos candidatos conseguiu comover você...). Em relação ao segundo item, com certeza, no começo, teríamos apenas as pessoas "informadas" votando. Mas nada que uma ou outra eleição não aprumasse depois.
Para mim, filosoficamente, o direito de votar é uma escolha antes de tudo. E, como todo o direito propriamente dito, eu poderia ter o direito de me abster. (Bem na Constituição temos o direito à vida, mas não acho que isso seja uma cilada para os suicidas...)
Claro que o Brasil ainda tem muito de autoritário: as pessoas vão me dizer que votar é um dever do cidadão. Ótimo. Concordo. O cara acha que vai mudar alguma coisa, vai lá e vota. Eu acho que mudar alguma coisa é difícil com o voto. Quiçá, impossível.
Me explico.
Todo mundo diz que escolhemos nosso futuro por meio do voto, não é mesmo?
Mas já parou para pensar como é escolhido aqueles que devemos escolher? Como Fulano, Beltrano e Sicrano se tornaram candidatos?
E como desses candidatos somente alguns são elegíveis (isto é, tem reais chances na eleição)?
Pois é.
Não escolhemos qualquer um. Escolhemos entre aqueles que se candidataram.
Você pode contra-argumentar que, se eu quisesse ser um candidato, deveria procurar os meios para isso.
Concordo.
Eu, em primeiro lugar, deveria me filiar a um partido. Em segundo, deveria puxar o saco de um monte de gente, fazer um monte de serviços de confiança. Enfim, eu deveria me mostrar confiável ao partido. Depois disso, eu deveria me mostrar hábil como homem público. Como alguém que as pessoas gostam. Como alguém que pode ser votado.
Claro que esse é o caminho clássico. Outros caminhos são possíveis, como mostraram o caso de Tiririca e Romário. Mas eles já eram conhecidos antes de entrarem na vida política. Já eram figuras públicas.
Outro caminho é o do apadrinhamento. Dilma nunca foi eleita a nada. Somente tinha sido escolhida por Lula. E ela foi eleita como "a escolha" de Lula. Outro caso parecido é o de Pita e Maluf, por exemplo.
Mas, normalmente, o cara para ser eleito tem que, primeiro, passar pela máquina partidária. E contar com a sorte. Mas, antes de contar com a sorte, tem que contar com o apoio econômico ao partido. Claro. Sem grana, não se faz nada. O cara pode ser uma fonte de carisma, mas sem grana ele não vai nem à esquina!
Assim, os elegíveis são escolhidos pela máquina partidária e econômica.
Um caso interessante são as eleições norte-americanas. O dualismo partidário - Conservador versus Democrata - está inscrito em uma grande tradição. Na verdade, tanto democratas quanto conservadores acreditam basicamente na mesma coisa, mas apenas com algumas conotações diferentes. E o povo escolhe sempre entre eles. (O "povo" aqui considerado todos sem distinção de classe...)
O sistema democrático me ordena: você deve escolher entre os candidatos disponíveis. Escolha um ou outro.
Mas e se não houver ninguém que eu queira escolher?
Por que eu devo sair de minha casa para votar nulo? Por que eu não deveria ficar em casa, matando o tempo (sim, sim para ele me matar)?
O sistema já descarta meu voto nulo como inválido. Quero dizer, o sistema é hipócrita. Você tem que votar, mas, se votar nulo, seu voto não vale.
Pois deveria valer. Digo, as eleições deveriam considerar todos os votos, inclusive os nulos, para todas as suas contagens (como os 50% mais um para segundo turno...).
Mas isso é outra questão.
A questão principal aqui é esta: não escolhemos os melhores ou aquele que queremos, mas, sim, escolhemos entre aqueles que possuem força, de antemão, para assumir o poder. Trata-se de uma questão de alternância no poder por grupos sociais. A eleição só é um meio legítimo enquanto todos os envolvidos (sobretudo os grupos de poder) acreditarem em tal. Assim, na prática, exclui-se a violência do jogo político, relegando-lhe um espaço marginal no sistema. Violência física, digo. Os outros tipos de violência, como mentiras, calúnias, etc., ainda continuaç existindo.
Essa é a vantagem das eleições: uma forma não-violenta de troca (ou manutenção...) do poder.
Além disso, o homem comum se sente lisonjeado e importante nesse período... Mas eu já falei disso.
Na verdade, o homem comum odeia o político, não por considerá-lo corrupto (ele sempre o considera corrupto e raramente erra!), mas, sim, por pura e simples inveja. O político é alguém que se deu bem, ou, mais especificamente, se deu melhor que o homem comum e, por isso, o homem comum o inveja. Portanto, durante as eleições, o cidadão médio quer que o político ajoelhe e peça sua bênção.
No entanto, quando diante do figurão, o homem comum se acovarda e trata o político com todo o respeito. Só alguns doidos ou desequilibrados é que o enfrentam. Ou o correligionário do outro candidato (que, enfim, é um político...).
Dessa forma, as eleições servem de escape para dois sentimentos potencialmente violentos: a soberba (como alguém que acha que vai mudar essa joça não vai ser soberbo?) e a inveja (do homem comum, o eleitor, pelos poderosos).
Há o papo de que escolhemos os melhores, que a democracia é o melhor sistema, que esse é o melhor dos mundos... Vá lá, leitor. Vá se você acredita nisso.
(Sou favorável total à democracia assim entendida. Sem ilusões. Na democracia ou, melhor, no estado democrático de direito, temos salvaguardas. Em uma ditadura, seja da direita, seja da esquerda, ou ainda teológica, não temos garantia de nada, sobretudo da liberdade de dizermos o que queremos. E essa, leitor, é a liberdade, por excelência. Mesmo só que sirva para reclamar...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente.
Assim que puder, eu libero (ou não...) o seu comentário.
Abraços.

Web Analytics