segunda-feira, 9 de maio de 2011

Diálogo entre um otimista e um pessimista

Otimista – Você viu, meu caro, que o STF aprovou a união estável entre pessoas do mesmo sexo. É um grande passo para o Brasil. Para acabar com o preconceito.
Pessimista – Pode ser, mas eu acho que não.
O – Por que não, meu amigo? Agora casais homossexuais têm os mesmos direitos de casais hetero…
P – Tudo bem. É um avanço, mas acho que o preconceito não vai acabar não. Talvez até aumente.
O – Meu caro amigo, creio que você tenha uma visão muito pessimista da vida...
P - Se você tá dizendo...
O – Eu acho que o preconceito vai acabar sim. Por exemplo, o Congresso vai votar a lei contra a Homofobia.
P – No congresso? Bem, lá essa lei não passa. Já viu como tem uma bancada extremamente retrógrada.
O – Então que eles façam uma consulta popular…

P – Aí que não passa mesmo. O povo brasileiro é muito conservador. Lembra-se do referendo sobre o desarmamento?
O – Mas que é isso? O casamento gay e a luta contra a homofobia são temas importantes, que valem a pena.
P – Bem. Concordo com você. Em tese. Podem passar todas essas leis e tudo mais. Mas mudar a natureza humana, que é a de basicamente estragar tudo, eu acho que não muda…
O - Você deveria acordar bem cedo de manhã e olhar a maravilha da criação. Para todas as criações mirabolantes da humanidade... Cada dia devia ser abençoado...
P - Sim, sim. O mundo é maravilhoso.
O - Viu? Você já está vendo o mundo com outros olhos.
P - Claro, claro. Outros olhos. Eu arranquei os meus ontem, peguei os seus hoje. Ainda estão tão doloridos que eu não vejo tudo tão cor de rosa como você. Não vejo mais as enchentes, terremotos, assaltos, estupros, mentiras e outras coisas mais…
O - Você tá de brincadeira!
P - Não, não. Eu nunca brinco. Sou um cara sério, responsável.
O - Me dê motivos para ser um pessimista.
P - Para quê? Você obviamente não quer abrir os olhos para a razão.
O - Mas você pode pelo menos tentar me convencer.
P - Eu? Eu não quero convencer ninguém. Todo mundo se convence do que quer. Estou convencido que eu não consigo convencer você de nada. A não ser do que você queira ser convencido.
O - Assim não vamos chegar a lugar nenhum
P - E quem disse que eu quero chegar a algum lugar? Você que veio que esse papo brabo.
O - Mas por que você é pessimista?
P - Eu? Pessimista? Mas eu não sou pessimista.
O - Ah, não?
P - É. O mundo que é péssimo.
O - Boa essa! Foi você quem inventou?
P - Não. O Saramago.
O - É? Eu gosto mais de outro tipo de romance. Gosto muito de autoajuda.
P - É mesmo? Percebe-se...
O - Aí. Tom sarcástico. De novo.
P - Me desculpe. Eu não consigo resistir. Vamos continuar nosso papo. Tente. Tente me convencer a ser otimista.
O - Pois não.
P - Pois sim!
O - Droga. Para de me interromper. Deixa eu pensar. Veja todas as maravilhas do mundo moderno. Tudo o que podemos fazer. Podemos nos conectar com qualquer pessoa do mundo.
P - Sabe quem pode se conectar também? Os terroristas. Eles adoram a internet.
O - Mas você tá vendo o lado negativo...
P - Outros caras que adoram a internet são os pedófilos. Eles adoram trocar figurinhas uns com os outros...
O - Trocadilho pesado esse...
P - Foi mal. Perco o amigo, mas não perco a piada.
O - Éééé...
P - Outro grupo que adora internet são esses malucos que entram e matam todo mundo de determinado lugar.
O - Mas isso só acontece lá fora.
P - Vejo que o colega tá desinformado. E o Wellington Menezes de Oliveira?
O - Foi um caso isolado. No Brasil, não vamos mais ter isso.
P - Não? Como você pode ter tanta certeza?
O - Eu sinto isso. Sou otimista, não é mesmo?
P - Ah, é. Tinha me esquecido. Bem, tem a internet e o que mais?
O - Ô meu amigo, há o progresso econômico...
P - Ah, sim. Destruição, devastação, aquecimento global, extinção das espécies... O que mais?
O - Você é muito pessimista. Você sofre por antecipação. Vê maldade em tudo.
P - Eu acho que não.
O - Sim. Você sofre antes, durante e depois. Você vê o sofrimento de longe, no horizonte. Quando ele se aproxima, você continua sofrendo e sofre mais ainda porque você não tem nem mesmo o alento da esperança. E, depois que o sofrimento acaba, você sofre esperando novos sofrimentos.
P - Que coisa mais pessimista de se dizer, otimista.
O - Me dói o coração dizer todas essas verdades para você, pessimista. Me senti péssimo. Mas você vê tudo de forma dramática.
P - É porque eu gosto de um drama. Você já assistiu Shakespeare?
O - Ah, ele é ótimo. Em Sonho de uma noite de verão, eu fiquei...
P - Eu prefiro Hamlet ou Rei Lear ou Macbeth. Em Rei Lear, por exemplo, é emblemático o amor das filhas pelo pai. Sempre achei sensacional.
O - Meu Deus do céu.
P - E você viu como Obama mandou Osama para o espaço? É, esse mundo não tem lei mesmo. Ou melhor, tem a lei do mais forte. Você já ouviu a história do lobo e da ovelha?
O - Acho que não.
P - Pois é. O lobo viu uma ovelha novinha, ficou com fome, mas quis arranjar um pretexto para comer a ovelha. Primeiro disse que a ovelha o havia ofendido no ano anterior. A ovelha respondeu que não era possível, tendo em vista ter menos de um ano.
P - Mas eu não sou pessimista. Sou apenas realista.
O - Todo pessimista fala isso.
P - É por causa da Lei de Murphy.
O - Vocês desvirtuaram a lei de Murphy.
P - Se alguma coisa pode dar errado, vai dar.
O - Era uma forma de se preparar contra acidentes. Murphy foi um engenheiro que queria deixar todo mundo alerta quanto às possibilidades de erro...
P - Exatamente o que um pessimista faz. Só que de forma mais ontológica...
O - Agora, você pegou pesado.
P - Eu sempre pego pesado. Pegar leve não é coisa de pessimista.
O - Muito bem. Mas você não me convenceu de nada. Continuo otimista.
P - Muito bem. Eu continuo pessimista.
O - Ok. Então até a próxima.
P - Se houver próxima...

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