quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Pessimista Radical e O Otimismo Psicótico

Claro para ser pessimista é preciso ser radical. É preciso ser pessimista até o fundo da alma (se você acredita em alma, tudo bem! Caso contrário, é figura de linguagem!). O cara não pode ser pessimista quando está chovendo e otimista quando está sol. Tem que ser pessimista sobretudo quando o dia está ensolarado. O dia ensolarado é uma conspiração cósmica para afirmar que a vida é boa. A vida é boa, meus caros, mas depende das condições de temperatura e pressão. A vida é boa, o pessimista radical pode afirmá-lo, mas a vida boa é muito precária. Qualquer alteração nas condições e adeus vida boa! A vida é boa, o pessimista radical terá a coragem de dizê-lo, mas o comum é a vida miserável, a vida miserável em todos os seus matizes, desde a vida miserável dos pobres à miséria moral dos ricos.
O pessimista radical não pode deixar de considerar a vida um fardo. Claro que a vida é um fardo. O negócio é você convencer o filhinho de papai que não faz nada o dia inteiro, pega sol na praia e depois vai para a balada. Quando ele passa mal da misturada de cachaça, tequila, cerveja e uísque (considerando que nosso filhinho de papai é um adepto somente de drogas lícitas…), aí é mais fácil. Mas o pessimista radical estará lá na praia, quando o sol está sorridente, quando há mulheres bonitas para se admirar, quando tudo estiver encaminhando o pensamento para o otimismo psicótico, o pessimista radical vai chegar à seguinte conclusão: “Essa vida é um fardo!”
Os outros olharam para ele e pensarão: “Esse aí tomou sol demais…” Se tiverem intimidade com o pessimista radical, vão afirmá-lo. O pessimista radical, se for um cético (cético sobretudo em relação aos humanos), dará de ombros. Mas, se ele for um pregador, tentará convencer os outros de que a vida, sim, é um fardo. Eles não percebem agora porque estão saciados pela natureza, mas que essa sensação é temporária, curta e precária. Ele diria que o estado normal do ser humano e de todos os outros seres vivos é o sofrimento. No ser humano, esse sofrimento é acompanhado pela ciência da morte. Nascemos, não somos nada e morremos.
Incrédulos, os seus amigos – ou supostos amigos, como gosta de adjetivar a medrosa imprensa brasileira – se entreolharam e dirão do pessimista. “Esse cara tá doido!”
Pois isso que significa ser um pessimista radical no Brasil.
O Brasil sofre de uma doença: o otimismo psicótico. Quem não for otimista e, ainda por cima, não for um otimista psicótico (o que é uma categoria de otimista além de qualquer raciocínio), será considerado louco, insano e maluco (todos esses sinônimos ao mesmo tempo…).
O pessimista brasileiro deve enfrentar tudo e todos com um sorriso nos lábios. O pessimista carrancudo e sorumbático é só um tipo dos pessimistas, provavelmente um que foi destroçado pela realidade. Mas o pessimista radical deve manter o seu bom-humor, deve fazer piadas e comentar sarcasticamente a realidade. Claro, os maiores humoristas eram tremendos pessimistas! Dizem que Deus é brasileiro, mas acredito que no Irã dizem que Deus é iraniano; nos EUA, americano, etc.
Se for confrontado diretamente, faça suas observações com humor ácido. Se pensarem que é uma brincadeira, você poderá fazer observações sobre eles mesmos sem ser acusado de misantropo. Mas se quiser ser chamado de misantropo, tudo bem. É só dizer a verdade nua e crua – aliás o melhor modo de servir a verdade (nos dois sentidos!).
Mas não devemos nos ater à realidade brasileira em si. Ser brasileiro ou alemão ou inglês é menos que ser um inglês, um alemão ou um brasileiro, mas são como vestimentas desta carcaça que chamamos vida, como um modo de ser e de se portar em relação aos outros. E assim como há canalhas e santos brasileiros, os há alemães, ingleses, javaneses… O pessimista radical vê além dessas condições irrisórias!
O pessimista radical sabe que o mundo vai de mal a pior e que qualquer melhora nele é apenas aparente e prelúdio de um mal ainda escondido. Sabe que neste exato momento alguém está sendo torturado, molestado, humilhado e morto. Sabe que o mundo é dividido entre os malditos e os que deveriam ser. Sabe ainda que, mesmo que todos os problemas sociais fossem resolvidos, sobraria o tédio mortal da existência.
Reconhece a advertência de Pascal que o homem (naquela época, se referiam assim ao ser humano…), quando só, quando sem nada para fazer, considera o vazio de sua existência. O tédio e o medo seriam presenças constantes. A única certeza, a morte. Por isso, o homem procura os divertimentos, companhias e outras distrações. Para esquecer sua condição miserável.
Por isso, volto ao mesmo mote de outros posts meus quando digo que tentamos – e essa tentativa sempre é vã, mas necessária – tentamos enganar a Morte, afastar o Tédio e matar o Tempo.
Você já fez isso hoje, meu caro leitor?

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