quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Humilde Proposta para a Reparação aos Afrodescendentes pelas terríveis e inenarráveis dores da Escravidão no Brasil





É um assunto polêmico, bem sei eu, pois, por muito estudar e ler na internet, nos jornais e em outros meios de comunicação, percebi e vi que a questão da reparação aos negros ou, melhor, aos afro-descendentes pelo odioso e triste flagelo da escravidão é um tema excruciante. Mas não posso me calar. Não posso desviar minha atenção desse terrível fato. A escravidão foi... Foi, não. É e continua sendo uma chaga ainda aberta da história de nosso país. Não duvidem disso. Basta olhar para todos os lados. O que vocês veem? Os eurodescendentes (pois chamá-los de brancos é muito preconceito) em posições de destaque, com carros do ano, com os melhores imóveis, estudando nas melhores escolas. E os afrodescendentes? Sempre por baixo, com exceção, é claro, do Ministério da Integração Social. Mas devemos notar bem isso, meus caros! A herança da escravidão é um fato. Um fato incontestável! E o Brasil, desde a abolição, o que deu aos afrodescendentes? Nada. Só não sucumbiram todos devido à sua constituição robusta e a seu grande ânimo. Aos afrodescendentes cabe mais: mais de nossa política, mais de nossa sociedade, mais de nossa economia!


E, quando várias propostas de cotas para universidades públicas foram aprovadas, surgiram em todos os lugares vozes discordantes. Clamavam que as cotas feriam o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. Desnecessário afirmar que não somos todos iguais e não importa que a Lei Maior assim o diga, pois a Lei Maior, apesar de todas as intenções com que foi feita e de todas as sanções que são necessárias para mantê-la, não mudará completamente a nossa realidade. Sou completamente cético em relação a isso. As leis - não importam como as chamamos, se Dez Mandamentos, Constituição, Leis Ordinárias (aliás, algumas são realmente bem ordinárias) - não mudaram o homem. Só aparentemente. Pois, quando o ser humano percebe que não há um olho vigiador, que não há uma possível punição aos seus atos, ele (ou ela) é capaz de atos que fariam o próprio Diabo tremer de medo. Já sei! Serei acusado de pessimista, de cético, de reacionário, de senador(?)! Mas não me importo, pois devo dizer a verdade. Somos desiguais. E, ao dizer que somos todos iguais, creio que a intenção foi afirmar que alguns não podem ser muito desiguais em relação aos outros. No entanto, e voltando ao meu tema, as cotas passaram a ser criticadas por aqueles que as veem como uma desigualdade de nosso sistema de justiça.


Ora, sejamos francos, nosso sistema de justiça, por muitos séculos, foi injusto com uma grande parcela de nossa população. E a "ajuda" dada aos seus descendentes, a "preferência" no momento de entrar em uma instituição pública, agora é tratada com todo esse cinismo conservador? Não estou afirmando que são todos conservadores, os contrários às cotas para afrodescendentes. Podem ser pais de classe média que, depois de terem gastado uma fortuna na educação de seu filho e de o verem ser preterido por causa do sistema de cotas, se sintam indignados e briguem na justiça por maior isonomia. Pode ser...


Mas é um fato, assim vejo eu, que o sistema de cotas, na verdade, é muito pouco para reparar toda a injustiça da escravidão.


Vejam bem, os escravos foram trazidos em infectos navios, levaram surras, foram rebaixados, apartados e jogados em currais humanos, chamados senzalas, e obrigados a trabalhar a vida inteira. E isso por quantos anos? Por séculos! E agora me vêm dizer que as cotas são um absurdo? Querem absurdo maior do que esse? Pois o sistema de cotas, repito, é pouco, muito pouco! Houve (ou há, realmente não sei) um movimento para se pagar uma indenização aos afrodescendentes, tal como há um sistema que paga indenizações aos perseguidos pela ditadura militar. Ora, se os torturados da ditadura estão recebendo, por que não os afrodescendentes? Afinal, a tortura e a perseguição política duraram apenas duas décadas, enquanto que a escravidão foi intensamente praticada por aproximadamente quatro séculos... Bem, ainda assim, mesmo com as cotas e um sistema de indenização, é pouco, muitíssimo pouco. Precisamos mais. Para sermos uma grande nação! Não, uma grande nação, não. Uma nação justa.


Para uma justiça completa, seria necessário que os próprios escravos se levantassem de seus túmulos, de sua vala comum. Que eles se reerguessem e voltassem do limbo em que se encontram. E voltassem a esse vale de lágrimas, somente para alguns, é bem certo, mas que foi sobretudo para eles. Tal como a visão do Juízo Final, ou dos diversos filmes de morto-vivos ou zumbis, ou do vídeo-clipe do Michael Jackson. Pois não podemos imaginar como haverá alguma reparação justa a não ser para aqueles que sofreram as perdas e danos. Perdas e danos de quê? Da própria vida. Só os próprios escravos saberão o que fazer para reparar o mal. E os antigos donos igualmente. Eles deveriam voltar também de seus ricos cemitérios para pagar por todos os seus pecados. Assim, os culpados seriam oprimidos por suas vítimas. Além disso, os escravos, para mostrar todo o seu ódio contra o mundo que os escravizou, em um grande movimento de ataque, poderiam dominar vivos e mortos, fazendo todos seus servos, usufruindo de todos os benefícios para apagar toda a dor de sua existência.


Mas isso ainda não é possível, bem sei eu, pois a nossa ciência ainda não possui a tecnologia para levantar defuntos. Não desistamos, porém. Algum dia acredito que os seres humanos conseguirão realizar essa hoje impossível alquimia. Nesse meio tempo, creio que encontrei uma alternativa viável.


Viável, digo logo, se o Brasil tiver coragem para enfrentar a ação insidiosa das grandes nações, aí incluídos os EUA. Ou, ainda melhor, astúcia para se aliar com os EUA em um ataque rápido contra a Europa. Creio, no entanto, que o atual governo terá a hombridade e coragem suficientes para encarar “de frente” mais esse desafio, como tem mostrado contra os países latino-americanos que tentam tomar nosso poder (mas essa é outra questão!).


Conforme afirmei mais acima, o sistema de cotas ou o pagamento de indenizações são propostas saudáveis e dignas para os afrodescendentes, mas, em minha humilde opinião, não representam nada perto da ignomínia da escravidão. Tendo isso em mente, pensei e repensei muitíssimo uma forma de reparar essa grande chaga em nossa história. Na minha concepção, só existe uma maneira de reparamos e apagarmos totalmente esse triste passado nosso.


Não há possível justiça, nem exequível reparação se ambas as partes, senhores e escravos, não trocarem de papéis. Ora, como viveremos em uma comunidade onde um grupo, os afrodescendentes, sofreu muitíssimo e outro grupo, os eurodescendentes, só usufruiu? Nenhuma medida será capaz de acabar com essa discrepância a não ser essa minha modesta oferta.


Dessa forma, minha humilde proposta, que, além de justa, se mostrará economicamente viável, é que os eurodescendentes se tornem escravos dos afrodescendentes em nosso país, por igual período ao da primeira escravidão. Sim, de que outra forma demonstrar aos eurodescendentes como é triste e degradante ser escravo? Assim, eles sentirão na pele o que é ser tolhido de sua liberdade, de sua dignidade, de seu valor, de, enfim, sua humanidade. Tornar-se-ão coisas, objetos, mercadoria (aí está o nosso economicamente viável...) para serem usados e abusados pelos afrodescendentes.


Além disso, os afrodescendentes poderão ver que ser senhor também não era uma tarefa fácil. Posição essa que fará com que as gerações futuras não sejam acusadas de ignorância. Gerir, administrar, chicotear, lucrar farão parte do vocabulário das próximas gerações de afrodescendentes. E, na posição de senhores, provavelmente, perderão todo o seu rancor pelas injustiças do passado, cometendo injustiças no presente.


Os políticos, se não estivessem tão preocupados com a ética, poderiam observar que a proposta, além de justa, é viável economicamente. Se o Brasil se aliasse aos EUA, conforme afirmei acima, contra a Europa, seria um bom começo. Pois, como não há muitos eurodescendentes no Brasil, ou, se comparados com os afrodescendentes, os eurodescendentes são minoria, deveríamos reinstituir o tráfico escravocrata, escravizando e dominando o continente europeu – afinal, não foram eles que começaram o tráfico negreiro? Assim, como minha avó dizia, matamos dois coelhos com uma cajadada só. Tornamo-nos uma grande e justa nação. Se os EUA fraquejarem nesse esforço, poderemos recorrer aos nossos amigos latino-americanos e aos nossos colegas africanos. Com certeza, representando eles grandes potências, poderemos derrotar as forças europeias e outras. Dessa forma, se formos bem sucedidos, será uma opção economicamente viável vender os escravos de nossas guerras para outras nações civilizadas. Com o monopólio da escravidão em nossas mãos, conseguiremos impor nosso preço no mercado internacional. Imaginem quanto valeria um escravo forte e robusto. Devemos, com isso, agir rápido, pois essa oportunidade é única. Seríamos grandes comerciantes e, com isso, aumentaríamos todo nosso prestígio no mundo. Não foi assim que as grandes nações atuais conseguiram ser o que são? Então, devemos seguir o exemplo deles.


O tráfico, com certeza, não será feito daquela forma desumana, mas, sim, utilizando os últimos aparatos tecnológicos. Poderemos usar aviões e navios, se quisermos. Não seremos acusados de monstros, com certeza. E, caso alguém nos acuse, usemos o grande porrete, como foi sugerido por um nobre presidente norte-americano.


Fiz essas considerações em relação ao mercado externo. Internamente, pode ser mais complexa a questão de saber quem é ou não afrodescendente. Uma nobre universidade, que utiliza o sistema de cotas, instituiu uma comissão que decide quem é ou não afrodescendente. Assim, houve o caso dos irmãos gêmeos, em que um foi considerado como tal e o outro, não. Pode ser uma opção, mas creio que essa comissão deva conseguir métodos mais científicos, como jogar cara e coroa, unidunitê, etc. Os políticos atualmente eleitos podem criar uma medida provisória afirmando-se, desde já, senhores e não escravos, afirmando-se afrodescendentes e não eurodescendentes . Para políticos, seria fácil ter a cara de um eurodescendente e afirmar-se afrodescendente.


Depois, é só começar o processo seletivo para toda a população. Poderíamos usar as Forças Armadas para nobre missão. Não vou me adentrar em pormenores, mas devo afirmar que deveríamos criar um índice de avaliação para ser usado em toda a nação. Assim, quem tiver dentro de determinado número do índice é senhor. Quem estiver fora é escravo. Muito simples e prático.


Quanto a quem será escravo de quem, isso são outras questões. A mim cabe somente plantar a semente de tão brilhante ideia. É um dever nosso lutarmos pelo que consideramos justo.


A Nova Escravidão ou a Reparação A Longo Prazo deve ser feita de forma metódica. Deve durar somente quanto tempo durou a antiga escravidão. Como não sou historiador e como percebi que tal matéria é controversa, deixo para meus amigos historiadores, sobretudo para aqueles que serão senhores (e não os que serão escravos, pois serão tendenciosos), a questão de delimitar quanto tempo durará a Nova Escravidão.


Minha proposta terá sua oposição, como todas as grandes ideias uma vez já tiveram. Sei, no entanto, que estou lutando para o bem de nosso país e, com isso, para o bem da humanidade. No futuro maravilhoso e utópico que se forma, os seres humanos verão como estava eu certo.

5 comentários:

  1. Sátiras, discordo quase que completamente e lhe digo porquê:

    1) A herança da escravidão existe. Mas não só negros foram afetados por ela. Se você avaliar o contexto histórico, muitas Nações de olhos azuis e cabelos louros já foram escravizadas por outras. Com a II Grande Guerra logo ali atrás, é palpável o que lhe afirmo aqui;

    2) Indenização? Pense bem: nossa Pátria é composta de ao menos 60% de negros ou descendentes (desculpe não usar afro-americano, mas esse termo é por demais comercial Made in USA). Basicamente todos teriam direito sobre qualquer indenização. Aí também teríamos - se não antes ainda - que indenizar aos índios, primeiros escravos destas Terras de Santa Cruz.

    3)Estabelecimento de cotas é de efeito inverso. Em qualquer nível. É segregacionista, sejam cotas por raça, por credo ou por limitação funcional.

    Entenda: minha visão sobre raça é um tanto diferente. Não enxergo pessoas pela cor, não as rotulo pela origem e não os taxo pela fé que pratica.

    Como sou daqueles pessimistas que enxergam a Humanidade como má por natureza, a diferenciação assumida por quaisquer fator de escolha que se use é má em si.

    Quer salvar a Humanidade dela mesma? Invista em EDUCAÇÃO. Não adianta estabelecer cotas universitárias se, como pode-se notar em nossos vestinulares, a média das notas fica em torno de 6. Chega-se ao vestibular semi-alfabetizado. Somente educação DE BASE livraria o pais dessa pecha segregacionista, pois a cultura ainda é o melhor remédio para o analfabetismo moral, que é a real situação de nosso povo.

    Independente da cor dos olhos, só o saber salva.

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  2. Comentário do Comentário

    Meu amigo Zenão,

    Antes de mais nada, obrigado pelo comentário e obrigado pela sinceridade. É muito difícil encontrarmos pessoas que discordam completamente de nossas opiniões e ainda digam o porquê. Normalmente, apenas discordam e pronto.
    Permita-me responder, ao mesmo tempo, seria e satiricamente, sendo que as diferenças entre o “sério” e o “satírico” cabe a você perceber.
    Meus pensamentos expressos aqui neste blog, o Santas Sátiras, todos ou em sua grande maioria têm sentido satírico. Assim, as palavras desses textos todos estão eivadas de ironia. Eu, que sou ignorante e nada sábio, procuro constantemente a ajuda do bom e velho dicionário. O Houaiss me disse, em conversa informal, que ironia é “figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender”.
    Creio que foi Millôr Fernandes que afirmou ser interessante a criação de um ponto de ironia, para demonstrar claramente o que estamos dizendo é o contrário do que dizemos. Por um tempo, concordei com ele, que tem muito mais experiência em ironias e sátiras, mas, hoje em dia, não concordo. A razão pura e simples é que a ironia se entende nas entrelinhas do texto. Não no que propriamente vai lá escrito, mas na intenção iconoclasta do autor.
    Como descobrir essa intenção? Como saber que o autor seriamente se exprime ou satiricamente escarnece?
    Bem, não serei temerário ao criar uma regra universal. Citarei tão-somente um exemplo. Em 1729, Jonathan Swift escreveu Modesta Proposta na qual, resumidamente, ele propunha a venda de bebês dos pobres para os ricos, como fonte de alimento. E isso para acabar com a pobreza na Irlanda. Houve pessoas que acreditaram na intenção dele e o acusaram de tudo o que era nome chulo. Mas Swift realmente quis dizer o que disse ou apenas usou de um absurdo (a venda de bebês pobres para senhores ricos) para denunciar um absurdo reinante (a pobreza da Irlanda)?
    Esses são os recursos da sátira, que procuro usar aqui.
    Agora,  respondendo satiricamente o seu comentário, afirmo que, sendo você o mestre da contradição, eu o contradigo ao concordar e discordar, ao mesmo tempo, de sua opinião. Você disse que não concorda nem com quotas nem indenizações, pois todos nós somos iguais. Eu discordei pelo que no post lá foi, pois, na minha argumentação, sermos todos iguais é um ideal e um ideal que deve ser sempre perseguido.
    O que fica estranho aparentemente é quando usamos os argumentos da desigualdade para conseguirmos benefícios... Mas isso é outro assunto.
    Gostei dos argumentos com os quais discordou das cotas e das indenizações. Quase mudei de opinião e meu post. Mas o que lá foi escrito, repito, deve ser lido sob o prisma satírico.
    E, no final, você não comentou a minha proposta, pois tanto as cotas quanto a indenização são as propostas dos outros. Minha proposta consiste simplesmente em reverter a escravidão, colocando os eurodescendentes como escravos e os afrodescendentes como senhores, por igual período ao da antiga escravidão. Essa é a minha humilde proposta, que, em minha ingênua credulidade, é a única cabível para acabar de vez com perseguições e desconfianças de ambos os lados.
    Quanto à sua opinião sobre a humanidade, concordo inteiramente. Bem, não inteiramente, porque realmente não sei se algo (ainda que seja a educação) é capaz de nos salvar... Se somos maus por natureza, você acredita que a educação é capaz de nos salvar? Não poderia ser usada a educação para outros fins muito menos honrosos?...
    Bem, mais uma vez, com toda a sinceridade de meu coração, obrigado pelo comentário.
    Espero poder contar mais com suas contribuições.
    Um abraço,
    Santas Sátiras (Christiano Costa)

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  3. Respondendo satiricamente:

    Às favas com a Humanidade. Entre guerras e cotas, vamos com a primeira opinião, já que é completamente democrática, matando a todos.

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  4. Grande David-Scriptus,

    Recomendo a leitura das falas do Macaco Tião. Vocês, satiricamente, têm opiniões em comum.

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  5. Escravizar a Europa ?
    Pagarás com a mesma moeda ?
    Alô - avisem ao Pinel - tem um louco à solta !

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