segunda-feira, 19 de julho de 2010

Loteria Eleitoral: proposta para a reforma radical de nosso processo eleitoral

Em um post recente, muitíssimo comentado nos meios virtuais (ponto irônico, por favor!!!), sobre o memorável festival da democracia que são as eleições (que você pode ler aqui), eu apenas sugeri um novo tipo de escolha eleitoral (aqui não teríamos um pleonasmo?). Minha proposta hoje é avaliar se esse novo tipo de processo seria melhor ou pior do que o atual.
Que proposta era esta?
Minha humilíssima proposta é a seguinte: não mais teremos eleições, não mais teremos votos e candidatos. Muito menos campanha eleitoral, com toda aquela parafernália, todo aquele bendito lixo, propaganda eleitoral obrigatória, negociatas para compra de votos, para troca de favores. Meu novo método irá acabar com isso tudo de uma vez só, como se desse um tiro fulminante em um tigre, matando-o de uma vez. Mas há-de se ter cuidado, não é mesmo? Pois esse tigre costuma ter sete vidas…
Mas no lugar de eleições, no lugar do voto, o que teremos? Simples, meus caros, teremos uma loteria. Uma loteria eleitoral!

Nessa loteria, cada cidadão terá um número, um número de vinte dígitos. Esse número será dado aleatoriamente antes de cada sorteio eleitoral. No dia da escolha, em vez de eleições, teremos uma grande loteria. Nossos representantes serão escolhidos por uma grande entidade mítica, o Acaso. O Acaso escolherá quem nos governará pelos próximos quatro anos. Depois disso, nossos representantes terão poder absoluto sobre tudo o que é importante em nossas vidas: as leis. Nenhum tribunal, juiz ou comissão poderá cassar os nossos sortudos representantes. Nada poderá destitui-lo, a não ser o Acaso. No sorteio eleitoral seguinte, nosso representante, escolhido pelo Acaso, não poderá concorrer novamente. Ficará para um próximo sorteio. Assim, garantimos que os sortudos não tenham tanta sorte assim de novo…
Como assim? Perderemos nosso sagrado direito de votar e de sermos votados? Bem, sim! Mas ainda não parem de ler este post, pois fica cada vez melhor. Você perderá o direito (obrigatório: se não votar, Leviatã vai atrás de você) de votar. E, falemos a verdade, as eleições parecem ser um jogo de cartas marcadas. Todos os anos, os mesmos retornam, independentemente de processos, de renúncias, de acusações, de falcatruas, de amantes… Parecem jogadores profissionais de futebol! Trata-se de uma mudança radical no tratamento da questão democrática. Pois, convenhamos, meus amigos e minhas amigas, vivemos em uma democracia? Em uma verdadeira democracia (pois prestem atenção e saquem os talões de cheque quando alguém antepor o adjetivo verdadeiro a qualquer substantivo)?
Se houvesse uma verdadeira democracia, você, simples mortal, simples cidadão, sem conexões especiais, sem contatos de renome, você poderia se candidatar e se tornar um representante do povo! Mas é esta a realidade em que vivemos? A política parece ser um eterno retorno. Os mesmos sempre voltam. Os mesmíssimos. Se não voltam em uma eleição, voltam na outra. Se não voltam como senadores, voltam como deputados! Você, pobre cidadão pagador de impostos (e de contribuições sociais ou não, e de taxas, e de pedágios…), muito provavelmente terá mais probabilidade de ser escolhido por meio do sorteio eleitoral.
Imaginem, meus caros, como será a nova festa da democracia. Um grande apresentador de televisão, um desses gigantes da cultura brasileira, comandará o sorteio eleitoral (alguém ainda tem de escrever a grande sátira sobre a tevê brasileira!). Teremos, é claro, aquelas moças inteligentes e mordazes que são regra na tevê, para tirar os números das urnas. Com a saída dos números, o apresentador gritará: E o grande ganhador é… Sim, pois será um grande ganhador. Não dependerá de ninguém. A diferença entre a eleição e o sorteio está exatamente nisso. Ganhar uma eleição é mais difícil. Temos de convencer, de fazer corpo-a-corpo, de tomar cafezinho desalmado, de beijar cada mocreia, de aturar crianças abusadas, de rir de piada sem graça, de ficar em pé interminavelmente, de falar e falar durante horas e horas até perder a noção de tudo e de todos. Temos, enfim, de aturar o povo. Vejam bem como político sofre. Ainda mais, político brasileiro! E o pior disso tudo é o quanto o pobre do candidato se endivida. Não só financeiramente, mas sobretudo moralmente com seus aliados. “Moralmente, autor satírico, mas isso é um conceito tão demodé”. Eu sei, meu caro leitor ou ilustríssima leitora, mas o moralmente aí vai com aquelas aspas bem colocadas, querendo significar tão-somente a moral de se estar comprometido com os seus aliados. Sem querer fazer qualquer juízo de valor, os mafiosos também estão moralmente comprometidos uns com os outros. Mas, ai de mim!, querer comparar mafiosos a políticos. Seria tão ruim para eles…
Com o sorteio eleitoral, não haveria nada disso. Seria uma noite só. Uma hora só. O ganhador iria, depois, para Brasília e ficaria por lá nos próximos quatro anos. Só. Seria alguém totalmente isento de conchavos e maracutaias. Seria alguém sortudo. Pois esse sorteio seria tão ou mais gratificante que o sorteio da Mega Sena. Quantos políticos não foram premiados, sem nenhum demérito, sem nenhuma acusação de corrupção, com a riqueza durante a sua vida política? Pois o exercício da política parece aguçar o exercício do empreendedorismo. Só pode ser isso! Ou… Bem, mas isso, com certeza, são acusações infundadas e levianas!
Dessa forma, fica minha proposta de reformulação total do processo eleitoral. Por meio de um sorteio. Por meio do Acaso. Por meio da sorte. Por meio do destino. Por meio da irracionalidade (mas já não é?). O Brasil poderia realmente dar sua contribuição à democracia mundial com essa inovação. Podemos ser reconhecidos lá fora, finalmente!
E ainda, pagamos tributo aos deuses do puro acaso e ficamos livres de toda essa parafernália da eleição.
Vou começar a colher assinaturas para enviar minha proposta ao Congresso Nacional. Vai ser muito melhor que o Ficha Limpa!

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