domingo, 18 de outubro de 2009

Reforma Política


Cidadãos e cidadãs do meu Brasil,


Muito tem-se discutido sobre a reforma política neste grande país. Vemos que nossos representantes sempre estão muito empenhados em melhorar a condição de vida de todos os brasileiros, começando, é claro, com a melhoria da condição de vida deles e de suas famílias. Nada mais natural. Como um deles defendeu quando soube que um programa social estava sendo flagrantemente roubado, é humano ser corrupto. Ou é corrupto ser humano... Ou algo parecido.
Diante de tais fatos, muitos acusam os políticos de roubarem o meu, o seu, o nosso dinheiro, usando-os para fins menos ortodoxos. Além disso, depois das últimas crises do Congresso, depois da crise do Mensalão (mensalão? que mensalão?...), depois das infinitas crises desde que o Brasil é Brasil, novamente vem a público uma campanha pela reforma política.

Mas que reforma política? Há muitas propostas na mesa, como sempre. No entanto, creio que momentos há em que devemos ser ousados. E esse é o momento em que venho com minhas disparatadas ideias!
Não quero nem saber do que todo mundo repete, mesmo que isso me custe a solidão do iconoclasta! Não me venham com o voto distrital misto, nem com o voto facultativo, nem mesmo com o fim das reeleições. Além dessas propostas, não quero nem saber da fidelidade partidária, nem da impossibilidade de candidatura dos fichas-suja! Isso tudo é muito pouco para resolver a imensidão de nossos problemas.
Porque, meus amigos, o nosso problema primordial é a corrupção! A corrupção pura e simples. Minto! A corrupção pode até ser simples, desde o trocadinho que damos para o guarda esquecer a infração que cometemos até o conluio para praticar todas as artimanhas na política; mas a corrupção nunca é pura. Ela é suja. Suja e grudenta! Quanto mais consideramos a corrupção, mais a percebemos como uma epidemia, como uma doença, mas uma doença cujos sintomas podem ser tratados com doses cavalares de hipocrisia! Sim, a corrupção é o grande mal de nosso tempo e, talvez, de todos os tempos.
Mas há como matá-la de uma vez, com um só tiro? Creio que não, cidadãos e cidadãs! Pois a corrupção, malgrado não concordarmos com a motivação da frase daquele político a que nos referimos mais acima, a corrupção parece ser um mal do ser humano. Onde há ser humano, ali também estará a corrupção. Pelo menos, em potência. Mark Twain dizia que a diferença entre um homem e um cachorro estava que este, se o tirássemos da rua, déssemos alimento e carinho, teríamos um amigo para todo resto de nossas vidas. O homem, não. Poderíamos apenas estar alimentando o nosso algoz!
Deixemos, contudo, esses pensamentos sombrios para trás. Uma reforma e, ainda mais, uma reforma política deve ser levada a cabo por pessoas otimistas. Por pessoas que acreditam em reformas - quer seja ela tributária (para aumentar mais os impostos), previdenciária (para diminuir os benefícios) ou trabalhista (para diminuir, ops... flexibilizar as relações trabalhistas).
Mesmo assim, prego uma reforma política radical para tentarmos, pelo menos, no meio político, moralizar um pouco as coisas.
Deixemos de delongas e vamos ao que interessa. Minhas propostas.

1) O político deve ter sua vida privada escancarada!

Isso para acabar com aquela confusão entre público e privado. Sim, porque ao político, quando interessa, ele esbraveja: "Isso é invasão de privacidade"! Pois, acredito que o costume norte-americano de invadir a vida pessoal do candidato é o melhor. Muitos de vocês irão franzir o cenho. Porque, acredito eu, todo mundo relaciona a vida privada com lavar a roupa suja em público. O que está acontecendo muito nas eleições... Assim, se o candidato a candidato não tiver estômago para enfrentar os seus adversários no jogo sujo pelo poder, melhor ele ir para a casa, porque o uso e abuso de denúncias serão utilizados.
Mas não é isso o que tenho em mente. Minha proposta é mais radical. Pois, logo após a luta fratricida pelo poder, a que chamamos eleições, os políticos derrotados trancam-se em casa ou viajam para Miami; e os ganhadores vão desfilar na passarela! E todo mundo invariavelmente esquece os podres da vida alheia! Meu objetivo é fazer com que não esqueçam!
Sim, depois da eleição, enquanto estiverem no poder, acredito que os políticos devem perder totalmente o seu direito à privacidade. Nos EUA, houve muitos avanços no controle da reincidência criminal ao se utilizar tornozeleiras com rastreamento remoto. A tecnologia tem deslumbrado com avanços antes nunca imaginados.
Assim, minha primeira proposta é exatamente destruir qualquer resquício de privacidade da vida do político. A partir do momento em que ele meter a mão na coisa pública (por favor! no bom sentido!), deve ele ou ela usar uma tornozeleira com um chip não só para localizá-lo, mas para escutarmos suas palavras e, se a tecnologia continuar avançando como está avançando, escutarmos até seus pensamentos! Seria um tremendo Big Brother! E o político teria sua alma devassada... Poucos escolheriam essa vida!

2) As eleições como um Big Brother ou o Big Brother como as eleições

Por falar em Big Brother, creio que minha segunda proposta, relacionada diretamente às eleições, deve começar com uma comparação entre a solene festa da democracia e o excêntrico espetáculo televisivo.
Quando se inicia um Big Brother (não que eu assista, pois prefiro ler um livro... Tá bom!), todos os participantes estão felizes e contentes, se abraçam, riem, contam sua vida, contam vantagens, mentiras e estripolias. O tempo passa e o que vemos? Guerras, grupos, estratégias, preconceitos, birras - enfim, o que toda a natureza humana, no que tem de mais banal, pode revelar. Pois, como disse Pedro Bial várias vezes, é difícil e até quase impossível mentir o tempo todo. Chega um momento que a verdade vem à tona - e, na maioria das vezes, essa verdade não é o que queríamos ouvir.
Dessa forma, quero fazer um duplo teste. Primeiro, um experimento científico, digno de Simão Bacamarte, o ilustre alienista. Meu experimento consiste em pôr naquela situação os políticos, que, segundo o conhecimento popular, são exímios na arte de mentir. Essa experiência traria muitos ganhos para a ciência, tendo em vista que poderíamos estudar de mais perto a natureza humana em um de seus extremos.
Para piorar, e aqui vai minha segunda proposta, o big brother político será a eleição e a eleição será o big brother político. Pelo menos, para os cargos do executivo. Já imaginou aquela turba de candidatos ao legislativo fazendo fila para entrar no programa? Não seria Big Brother, mas Ídolos.
Mas a minha proposta é muito pertinente, pois os políticos, obrigados à convivência com seus concorrentes (respeitadas estritas regras de conduta), durante as vinte e quatro horas do dia, poderiam nos revelar algumas verdades nada convencionais. Muito melhor do que quando vão a um debate como um ator vai ao palco. Com tudo decoradinho, com tudo combinado! Quero ver os políticos se exporem e exporem suas mais absurdas e ridículas ideias. Se é que eles têm alguma...

3) Fichas-Suja como oportunidade

Grande importância está sendo dada a esse tema. No entanto, o STF já decidiu sobre o tema, pois com essa Constituição não se brinca - ai dos Constituintes - e o STF e toda uma turba de políticos sempre enchem a boca para dizer: Ninguém será considerado culpado sem o trânsito em julgado. Creio que seja assim. Interessante notar que um funcionário público pode não tomar posse em vista de seu passado pecaminoso.
Um político, não... Devemos notar que um político bem-sucedido não é uma pessoa comum. Ele é um eleito. E os eleitos, pelo que estou percebendo, podem tudo, inclusive carregar em suas fortes e impressionantes costas um amontoado de processos contra sua ilibada reputação. São heróis os nossos políticos. E eles deveriam ser vistos assim!
Mas vejamos o lado prático da ficha suja.
Não foi só Maquiavel quem falou umas verdades sobre política e políticos que estes seguem maquiavelicamente sem citá-lo, mas também Weber que afirmou ser a política um caminho não lá muito virtuoso, mas, sim, sinuoso e esguio.
Quem vocês escolheriam para comandar o barco? Alguém com experiência no mando e desmando? Ou alguém que se diz iluminado, sortudo e exemplo para as criancinhas...? Fujo ao tema dessa proposta...
Meu simples conselho é este: se vamos colocar alguém no meio de raposas e lobos, quem melhor do que a mais esperta raposa ou o mais insidioso lobo?
Assim, este tópico é uma negativa que, por fim, é uma afirmativa.
Se a experiência de "vida" conta para alguma coisa, então a sujeira na ficha não é um empecilho, mas, sim, uma vantagem.
Deixe os fichas-suja se redimirem! Eles podem surpreender vocês... Talvez, não do jeito que gostaríamos, mas não perca a esperança...

4) Curso para política

Uma forma de profissionalizar ainda mais os nossos políticos.
Você já percebeu que são sempre os mesmos? Que passam essa vontade de politicar de pai para filho e para neto...? Parece mais um negócio de família. Claro que há famílias de médicos, advogados, engenheiros, etc. Mas todos eles não se tornaram profissionais só por serem da mesma família, mas, sim, por terem cursado uma faculdade.
Está na hora de termos uma profissionalização desses que conduzem o barco. Em uma escola para políticos, eles poderiam aprender o básico do básico, como: o toma-lá-dá-cá; é dando que se recebe; a multipartição dos poderes (tripartição é muito pouco...); a multiplicação dos cargos e empregos; e muitos outros termos que eles precisam aprender. Creio que perdemos muitas oportunidades pela falta de estudo da política, em especial, da política brasileira.
Claro que deveria ser um curso totalmente voltado para a prática. Nesse curso, eu, por exemplo, gostaria de lecionar as aulas de retórica prática ou como vencer qualquer oponente mesmo não tendo razão. Isso, claro, utilizando exemplos de todos os tempos.
Também creio que uma sessão de close reading do conto "Teoria do Medalhão", de Machado de Assis, seria igualmente esclarecedor.
Mas, espera, Machado de Assis para políticos? É querer demais, não é?

5) Nepotismo moderado

Realmente, pensemos os prós e contras do nepotismo. É um mal uso da máquina pública, é uma vergonha e tudo o mais, correto? Mas lembrem-se de que os políticos também são pais, avós, irmãos e tios... E até mesmo sogros! Imaginem os políticos receosos do futuro do filho ou da filha! Ele não poderá trabalhar assim. Assim não é possível.
E também há o problema da isonomia. Devemos tratar todos de forma igual. Está lá na Constituição. Por que excluir os familiares desses ótimos cargos?
Assim, defendo um nepotismo só que moderado. Também não podemos escancarar a porteira pública. Misturar o público com o privado é um dos nossos piores males.
Contudo, com a tornozeleira eletrônica implantada nos infelizes, ficará fácil descobrir que parente está ou não realmente trabalhando.
(Não estaria eu subestimando a capacidade política de dissimular?... Bem, acho que não. Confio neles.)

Acredito que minhas propostas básicas sejam essas.
Espero que vocês apreciem esse meu esforço por melhorar nossa política e, com isso, melhorar nosso país.
(Se quiserem me dar um emprego ou uma boquinha - não que eu queira para proveito próprio, mas, sim, para servir o país, a nação, o povo, etc. - , é só passar um e-mail...)
Aquele abraço.

Um comentário:

  1. me mijei rindo- em ti eu voto! ...mas tens que depositar algum na minha conta - nao esquece que estamos no Brasil - eleitor e candidato fazem um pega para ver quem é mais safado. gostei do texto sou tosco e teu texto é bem mais refinado mas otimo.

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